A descontinuidade de parcerias com foco na educação e a falta de maiores investimentos na alfabetização de crianças estão entre os fatores que colocaram o Rio Grande do Norte como o estado do país com o pior Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) em 2023. É o que aponta a professora Cláudia Santa Rosa, doutora em Educação e ex-secretária de educação do Estado. A afirmação foi repassada durante entrevista ao Tribuna Livre, da Jovem Pan News Natal, nesta terça-feira (20).
A especialista esclarece que o Ideb é calculado por meio de uma fórmula que considera os resultados dos estudantes na prova do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e os dados do Censo Escolar. Na última edição, o estado potiguar ficou nas últimas posições do ranking nas três etapas de ensino: anos iniciais, anos finais do ensino fundamental e ensino médio. O índice desta última etapa, por exemplo, foi de 3,2 e ficou abaixo da média nacional de 4,1.
Embora o Estado apresente resultado negativo em uma realidade mais ampla, Cláudia Santa Rosa chama atenção para alguns panoramas isolados apresentados por escolas do Estado. É o caso, por exemplo, do Centro Estadual de Educação Profissional (Ceep) Professora Lourdinha Guerra e do Centro Estadual de Educação Profissional (Ceep) João Faustino que tiveram índices acima da média brasileira no Ideb.
Entre as 36 unidades de ensino do Estado que atingiram ao menos o índice do país, aponta, estão todos os centros de educação profissional, enquanto o restante é majoritariamente formado por escolas de tempo integral. O sistema de ensino integral, aliado a iniciativas junto a fundações e institutos nacionais durante a gestão que esteve à frente da Secretaria de Educação, estão entre os fatores apontados pela especialista para a melhora do Ideb potiguar em 2019. Naquele ano, após um período de estagnação, o Estado atingiu índice de 3,2.
A partir de 2019, contudo, as parcerias que até então vinham fomentando a educação local foram descontinuadas. “Trabalharam conosco [Secretaria de Educação do Estado], por exemplo, o Instituto Unibanco com o projeto “Jovem de Futuro” que estava em 143 escolas, mas com perspectivas de ser ampliado para toda a rede de ensino. O projeto tinha um foco na gestão para resultados de aprendizagem”, esclarece Cláudia Santa Rosa, para quem a implementação das escolas em tempo integral também vem enfrentando fragilidades.
Inicialmente, afirma a professora, o sistema foi implantado com apoio do Instituto de Corresponsabilidade pela Educação (ICE) dentro do projeto Escola da Escolha. A iniciativa, idealizada pelo ICE, consiste em um modelo de educação que foca tanto na formação acadêmica quanto na ampliação das referências sobre valores e ideais do estudante. O Instituto também atuou em Pernambuco, um dos estados nordestinos com índices mais elevados no Ideb.
Aliado à ausência de parcerias, Cláudia Santa Rosa chama atenção para a necessidade de ampliar a alfabetização das crianças. “O Rio Grande do Norte só consegue alfabetizar 37% das crianças até os sete anos de idade. Isso já responde o motivo do nosso último lugar nos anos finais e iniciais. Como se consegue melhorar a educação sem alfabetizar as crianças?”, critica.