NÚMERO DE CONEXÕES DE ENERGIA SOLAR CRESCE 183% EM 10 ANOS NO RN

O número acumulado de conexões de energia solar no Rio Grande do Norte saiu de 53 sistemas em 2015 para 97.541 em abril deste ano, um crescimento de 183,9%. Os dados são do Observatório da Energia Solar, que aponta, ainda, que a potência instalada acumulada no estado saltou de 746,9 quilowatts-pico (kWp) para 884.416,47 kWp no mesmo período. De acordo com a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), desde 2012, a modalidade já proporcionou ao RN a atração de R$ 3,9 bilhões em investimentos, com geração de mais de 25,7 mil empregos. Natal, Mossoró e Parnamirim são os municípios com maior destaque no setor, conforme os dados do Observatório.

As principais classes de consumo no RN desde 2015 são a residencial, com 82.511 conexões, o equivalente a 84,6% de todos os sistemas conectados, e 520.480,16 kWp (58,9% do total); a comercial, que registra 11.221 conexões (11,5% do total) e 257.199,97 kWp (29,1%); a rural, com 3.030 sistemas (3,1% do total de conexões) e 48.754,91 kWp (5,5% de toda a potência instalada); e a industrial, com 422 sistemas conectados à rede (0,4%) e 43.298,54 KWp, ou 4,9% do total.

O professor universitário Antônio de Pádua, de 63 anos, começou a utilizar energia solar em casa em 2020. As preocupações com sustentabilidade e o custo-benefício foram os fatores que o fizeram aderir à modalidade. “Os custos são bem pequenos. Hoje, pago apenas uma taxa mensal de R$ 23. Se eu estivesse utilizando energia elétrica, estaria pagando algo em torno de R$ 400 por mês. Então, vale muito a pena”, relata o professor, que mora no bairro do Tirol, na zona Leste de Natal.

Diante das vantagens, ele decidiu contratar uma usina fotovoltaica também para a casa de praia. “A primeira usina que contratamos [para a residência no Tirol] saiu por volta de R$ 19 mil. A segunda, para a casa de praia, custou R$ 5 mil, então, é um mercado que tem ficado cada vez mais acessível, sem falar que é uma energia limpa”, avalia Pádua.

As preocupações com sustentabilidade também pesaram bastante na hora de o empresário Geovani Carvalho comprar uma usina para o Hotel Ponta do Madeiro, do qual é proprietário. “São quase 10 anos desde que adotamos o uso de energia solar no hotel, o primeiro de Pipa e do RN com essa modalidade. Hoje, esse tipo de energia responde por cerca de 75% da eletricidade do empreendimento, mas pretendemos aumentar o índice para 90%. Minha preocupação sempre foi com a sustentabilidade”, conta Carvalho.

De olho na perspectiva de adotar o uso de energias limpas, o empresário procurou o Sebrae em 2005 para entender um pouco mais sobre eficiência energética. “Eu tinha uma boa eficiência, mas queria diminuir os impactos da eletricidade. Conheci a eólica, que era inviável por causa do custo alto. Então, quando eu fiquei sabendo da solar, por volta de 2015, decidi implantar, inicialmente, 75 kWp. Hoje, são 200 kWp. Além do hotel, tenho mais três unidades que geram energia para a empresa da minha esposa, para o nosso apartamento e para nossa casa de praia”, frisa.

Antônio paga apenas uma taxa mensal de R$ 23 na energia | Foto: Magnus Nascimento

Natal possui mais de 18 mil conexões

A capital potiguar lidera, segundo o Observatório da Energia Solar, o número de conexões e potência instalada no Rio Grande do Norte. São 18.306 sistemas conectados (18,8% do total do estado) e 161.566,91 kWp (18,3% da quantidade total do RN). Em seguida vem Mossoró, com 16.744 conexões e 134.641,90 kWp, o que corresponde a 17,2% das conexões totais e a 15,2% da potência instalada em todo o território potiguar. Parnamirim, com 10.721 (11%) e 78.904,22 kWp (8,9%) ocupa o terceiro lugar no ranking dos municípios com maior participação no setor, acompanhado de Caicó (3.449 conexões, ou 3,5% de todo o estado; e 31.479,32 kWp, ou 3,6% do total) e São Gonçalo do Amarante, que registrou em abril um acumulado de 2.511 sistemas conectados (2,6% das conexões no RN) e 17.992,50 quilowatts-pico (2% de toda a potência instalada no RN).

Ainda de acordo com o Observatório, o estado responde por 12,6% das conexões no Nordeste (a região acumula 776.467 sistemas – dados até abril) e por 11,2% da potência instalada na região (7.913.835,36 kWp). Em relação ao Brasil, com 3.406.229 sistemas até abril, o RN responde por 2,9% das conexões e 2,3% da capacidade instada (no País, essa capacidade é de 38.242.805,20 kWp).

Para José Maria Vilar, criador do Observatório da Energia Solar, o crescimento do setor no estado tem a ver com a confiabilidade do uso dos sistemas, economia nas contas de energia e maior oferta de equipamentos.

“Os sistemas têm apresentado confiabilidade junto aos usuários que realizaram investimentos no início, passando a transmitir segurança para a adoção dessa tecnologia que estava chegando para os demais interessados. Além disso, há uma economia significativa, permitindo que o capital investido na compra de equipamentos e serviços seja recuperado em um curto espaço de tempo (payback). A grande oferta de equipamentos é seguida pela queda progressiva no preço desses itens, que são disponibilizados por empresas nacionais e internacionais”, detalha Vilar.

O presidente da Associação Potiguar de Energias Renováveis (Aper), Williman Oliveira, diz que a principal vantagem para os consumidores é a autonomia de gerar a própria energia, resultando em economia direta. “Além disso, a transição energética, incluindo o uso de carros e equipamentos elétricos, proporciona conforto e liberdade a um custo reduzido”, explica. Segundo Oliveira, é possível instalar painéis solares no telhado de residências e empresas, os quais captam a irradiação solar e a convertem em energia limpa.

“Os inversores transformam essa energia de forma segura para atender tanto à demanda local quanto remota”, diz. O excedente vai para a rede elétrica da concessionária. “Essa geração excedente fica consignada na conta do consumidor como crédito para compensação nas cobranças seguintes”, esclarece José Maria Vilar, do Observatório da Energia Solar.

Legislação e incentivos são desafios do setor

Para interlocutores do setor ouvidos pela reportagem, o grande desafio para o mercado de energia solar é a legislação. A Absolar, por exemplo, defende a aprovação do Projeto de Lei nº 624/2023, que institui o Programa Renda Básica Energética (REBE), que está em tramitação nas comissões do Senado. “O PL é fundamental para a geração distribuída solar, pois resolve estruturalmente o problema das negativas de conexão feitas pelas distribuidoras sob alegação de inversão de fluxo de potência e atualiza a Lei nº 14.300/2022, o marco legal da geração própria renovável”, avalia Rodrigo Sauaia, presidente executivo da Absolar.

Williman Oliveira, da Aper, diz que já houve avanços, com a aprovação da Lei 14.300, mas afirma que é preciso uma maior atenção do Governo Federal ao setor. “A lei trouxe segurança jurídica para a geração distribuída, mas as mudanças que a Aneel estabelece com frequência para a energia solar podem ser prejudiciais e trazer instabilidade”, pontua.

Além disso, segundo José Maria Vilar, é necessário a criação de incentivos para a faixa de consumidores de baixa renda. Ele acrescenta que um fator que requer atenção das pessoas físicas e jurídicas que pretendem passar a utilizar energia solar é o cuidado na escolha dos fornecedores. “Um novo desafio que se apresenta é a oferta da chamada ‘energia por assinatura’, que já vem sendo ofertada no mercado por meio de aluguel de equipamentos, consórcios, associações ou cooperativas, representando concorrência crescente para as empresas comercializadoras e instaladoras já existentes”, fala.

Encarar os desafios é crucial para desenvolver o setor, que gera importante arrecadação aos cofres públicos – no caso do RN, de R$ 1,2 bilhão desde 2012, de acordo com a Absolar – e que registrou recordes nos últimos anos, como ocorreu em 2024, com 29.603 novas conexões, número mais alto desde 2015 considerando apenas o recorte anual. Em 2025, até abril, são 11.693 novos sistemas, tendo fevereiro (com 3.614 conexões) como recordista mensal no cenário que considera o período de maio de 2023 a abril deste ano.

Sílvio Torquato, secretário de Desenvolvimento Econômico do RN, diz que o Governo do Estado tem contribuído para estimular o mercado local. “Não há cobrança de ICMS em cima do que é produzido em painéis solares residenciais no estado. Outros incentivos chegam por meio de linhas de crédito especiais solicitadas pelo Consórcio Nordeste a instituições como Banco do Nordeste, Caixa Econômica e Banco do Brasil”, aponta o secretário.

  • Energia solar no RN
    Expansão em números
  • 97.541
    é o acumulado de conexões de energia solar no RN até abril de 2025
  • 884.416,47 kWp
    é a potência instalada até abril de 2025
  • R$ 3,9 bilhões
    é o valor acumulado em investimentos desde 2012
  • R$ 1,2 bilhão
    é o valor arrecadado aos cofres públicos desde 2012
  • 25,7 mil
    é o número de empregos gerados desde 2012

Fontes: Observatório da Energia Solar e Absolar

  • Novas conexões no RN a cada ano
  • 2015: 53*
  • 2016: 86
  • 2017: 172
  • 2018: 509
  • 2019: 1.673
  • 2020: 3.736
  • 2021: 12.108
  • 2022: 19.562
  • 2023: 18.346
  • 2024: 29.603
  • 2025: 11.693**

Total acumulado:
97.541sistemas

*Acumulado até 2015
**Dados até abril

Fonte: Observatório da Energia Solar