Responsável por 62,5% das exportações do Rio Grande do Norte, o setor agropecuário tem grande participação na economia estadual. De acordo com a Federação da Agricultura, Pecuária e da Pesca do Estado do Rio Grande do Norte (Faern), a presença do agro nas exportações potiguares têm a presença principalmente da fruticultura – como o melão – e de pescados. No entanto, o setor vive na expectativa em saber como será a exportação do que foi produzido na safra 2022/2023, que termina em agosto deste ano. Mesmo com apoio do governo, o desfecho ainda é desconhecido pelo segmento.
Segundo José Vieira, presidente da Faern, o Porto de Natal tem papel relevante na exportação de frutas para a Europa, com outros estados optando pelo terminal portuário da capital potiguar. “O porto do RN é um porto especializado para exportação de frutas. Então, a logística e a operacionalidade dele é muito mais eficiente e é o porto mais perto da Europa. Petrolina [em Pernambuco] prefere exportar pelo Porto de Natal, porque a fruta chega mais rápido na Europa do que se eu mandar pelo porto de Suape, em Pernambuco. Todas as frutas do vale do São Francisco, da Paraíba, algumas de Pernambuco e até da Bahia, para você ter ideia, sobem para ser exportadas aqui no RN”, explicou.
No entanto, de acordo com a Federação que representa o setor agropecuário, existe um fator de preocupação para os produtores locais do segmento de fruticultura já para a safra 2022/2023. No ano passado, a empresa francesa CMA-CGM, que opera em Natal, anunciou que deixará de operar no estado, por conta da impossibilidade de que navios maiores consigam chegar ao terminal natalense. “O que isso quer dizer? O RN não vai ter navio para exportar pelo porto de Natal. Isso por conta de vários fatores. Primeiro, com relação à ponte [Newton Navarro], ela tem uma limitação grande da entrada de grandes navios, hoje em dia todas as empresas estão buscando eficiência. Uma coisa é um navio transportar 500 contêineres, outra é um navio maior transportar mil contêineres, o preço do custo diminui. E isso faz com que os outros estados absorvam essa demanda”, observou.
Alguns produtores de fora do estado, já negociaram, inclusive o escoamento por outros estados do Nordeste. “Geralmente os produtores e os exportadores negociam o frete antes do início da safra. Então os produtores de manga, principalmente da região de Petrolina, já negociaram com a MSC e a manga vai sair pelo Ceará. Eles já negociaram frete. Então estão com a vida resolvida. E assim, todas as empresas estão buscando as melhores negociações para cada uma para escoar sua produção”, adiantou.
De acordo com o presidente da Faern, algumas questões de logística podem pesar contra a escolha pelo Rio Grande do Norte para a exportação de frutas ao velho continente. “Estamos muito preocupados porque a empresa que opera no RN, a CMA CGM, está com terminal próprio no Ceará. E a outra empresa que poderia operar aqui, que é a MSC, tem um terminal em Suape [Pernambuco]”, explicou.
Conforme o presidente da Faern, tanto governo quanto a iniciativa privada trabalham em conjunto para a exportação da produção da próxima safra, que deve começar em agosto. Ainda assim, não há um desfecho definitivo para o escoamento das frutas cultivadas no RN para a Europa, um dos principais públicos compradores. “O Secretário de Agricultura, Guilherme Saldanha, está empenhado pessoalmente, ele nos acompanhou nessa missão, com várias reuniões, vários armadores e operadores nesta feira de fruticultura, está consciente e estamos buscando alternativas. Tanto o setor privado quanto o governo do estado, estamos buscando alternativas e uma saída para o porto de Natal”, falou.
BALANÇO
Com produtos como melões, melancias e pescados, as exportações oriundas do Agronegócio potiguar representaram mais de um terço do total exportado pelo RN em 2022. Dos US$ 736,8 milhões enviados ao exterior no ano passado pelo estado, US$ 254,1 milhões (34,5%) foram oriundos do campo, em mais uma prova inequívoca da importância deste setor para a economia norte-rio-grandense. Desconsiderando o petróleo bruto – equivalentes a 44,7% da pauta total de exportação – a relevância do setor agropecuário dispara e o setor passa a representar 62,5% das exportações do RN.
Entre os principais produtos do agronegócio potiguar, estão a melancia cresceu em quatro anos 193%, é o caso também dos peixes, que tiveram um incremento de 116,5%. Mas o maior aumento individual se deu na lagosta, item do qual o RN teve um crescimento de incríveis 948%. “Os números ratificam a percepção que sempre tivemos da assertividade do investimento realizado pelo Governo da Profª Fátima no apoio ao agronegócio potiguar. O peso destes itens em nossa pauta dá uma dimensão exata do potencial de geração de ocupação e renda que a atividade tem no nosso estado, além de injetar mais de R$ 1 bilhão na economia do Estado”, afirmou o titular da Secretaria Estadual da Agricultura, da Pecuária e da Pesca (Sape RN), Guilherme Saldanha.
Crise econômica na Europa afeta consumo e produção no RN
Desde a pandemia, diversos fatores passaram a influenciar a economia europeia, que sofre com inflação alta, refletindo no consumo e, diretamente, na compra e produção de insumos, como frutas, por exemplo. “Essa safra que está se encerrando, a gente acredita que houve uma redução de área plantada em torno de 15% a 20%. A Europa passa por uma crise econômica muito grande, está com inflação, custo de vida maior, então as pessoas consomem mesmo. Problema de custo de energia elétrica. A Europa está passando por um momento muito difícil financeiro. E aí, as pessoas vão comprar só o essencial,” disse.
A expectativa, segundo o presidente da Faern, é de que a próxima safra seja melhor do que a atual. “A gente espera que para o próximo ano, a situação seja melhor do que a safra 2022/2023”, disse. No entanto, Vieira disse ser difícil prever com certeza o que deve acontecer no cenário econômico. “O fato é esse: a Europa está vivendo uma crise violenta econômica, de inflação, de custo de vida, renda das pessoas diminuiu. Mas as pessoas precisam comer. Então a gente espera que a economia melhorando na Europa, obviamente, a produção de frutas aqui também melhore”, pontuou.
Essa imprevisibilidade interfere até no modo de fazer negócios entre os produtores nacionais e compradores europeus. “A gente espera que 2023/2024 seja melhor, acreditando que essa crise na Europa deva diminuir com relação à inflação e custo de vida. Estamos otimistas, aguardando os compradores, mas hoje estamos com muita cautela em fechar negociação. Não sabemos o que vai acontecer no dia de amanhã”, explicou.