
Entre 2013 e 2024, os fenômenos climáticos extremos provocaram um prejuízo financeiro superior a R$ 9 bilhões no Rio Grande do Norte, conforme estudo divulgado pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM). Desse total, R$ 4,8 bilhões correspondem a perdas públicas, R$ 4,2 bilhões a prejuízos privados e R$ 66 milhões a danos habitacionais.
O levantamento apresenta um panorama dos desastres naturais registrados nos últimos dez anos em todo o país. Segundo a CNM, o prejuízo nacional estimado ultrapassa R$ 732 bilhões. A coleta de dados foi realizada entre agosto de 2024 e março de 2025 por meio de formulários enviados a prefeituras.
A divulgação do estudo ocorre durante a COP30, conferência da ONU sobre mudanças climáticas que acontece em Belém (PA) até 21 de novembro, reunindo representantes de mais de 190 países. O governo brasileiro, anfitrião do evento, defende que nações desenvolvidas financiem ações de combate aos efeitos do aquecimento global em países em desenvolvimento.
Apesar do impacto financeiro apontado, a CNM ressalta que o valor real é ainda maior, pois menos da metade dos municípios que decretaram situação de emergência ou calamidade registraram o montante de prejuízos.
“A Confederação destaca que apenas cerca de 48,3% dos 5.233 municípios que emitiram decretos no sistema federal informaram os valores dos prejuízos econômicos. Observa-se que a maioria dos entes locais prioriza o preenchimento de dados referentes a danos humanos, como número de mortos, feridos e desalojados, por serem informações mais acessíveis”, informou a entidade.
Dados no RN
De acordo com o levantamento, o Rio Grande do Norte publicou 4.534 decretos de anormalidade por desastres naturais no período, o equivalente a uma média de 27 por município, o segundo maior número proporcional do país, atrás apenas de Mato Grosso do Sul.
- 70% dos decretos foram motivados por seca ou estiagem (3.095 registros);
- 218 decretos foram emitidos por excesso de chuvas, o terceiro maior número do Nordeste.
No estado, os desastres naturais deixaram 11 mortos, 4.633 desabrigados e 17.525 desalojados. A CNM calcula ainda 19 milhões de pessoas afetadas, número superior à população potiguar, já que um mesmo indivíduo pode ter sido atingido em mais de um evento.
Investimentos e estrutura
O estudo também aponta que 70% dos municípios brasileiros investem até R$ 50 mil mensais em ações de prevenção, valor considerado insuficiente pela CNM. Apenas 12% das cidades possuem órgãos próprios de defesa civil.
“Cerca de 49% [dos gestores] disseram que acumulam a função de proteção e defesa civil em outros órgãos da administração local e 32% contam com estrutura exclusiva vinculada ao gabinete do prefeito”, detalha o relatório.
Seca e emergência ambiental
Em outubro, o governo do estado reconheceu situação de emergência por seca em 147 dos 167 municípios potiguares. Desses, 71 estão em condição de “seca grave”, incluindo Caicó, Currais Novos, Caraúbas e Pau dos Ferros.
Segundo a Caern, 10 cidades enfrentam colapso ou pré-colapso no abastecimento, atingindo cerca de 108 mil pessoas. O caso mais crítico é o de Serra do Mel, em colapso há quatro anos.
Medições do Igarn de outubro indicam que os reservatórios estaduais acumulavam 2,28 bilhões de m³ de água, o que representa 44,2% da capacidade total — um volume inferior ao registrado no mesmo período do ano anterior.
Avanço do mar e chuvas em Natal
Além da seca, o Rio Grande do Norte também enfrenta problemas causados pelo avanço do mar e pelas chuvas intensas. Em setembro de 2024, a Prefeitura do Natal decretou emergência após a erosão atingir a Praia de Ponta Negra, danificando estruturas e parte do sistema de drenagem. A obra de engorda da faixa de areia, concluída neste ano, custou mais de R$ 100 milhões.
Em 2022 e 2023, a capital potiguar também decretou situação de emergência por alagamentos e deslizamentos, que provocaram danos à infraestrutura urbana e desabrigaram moradores em diferentes bairros.