
A infraestrutura para veículos elétricos avança em ritmo acelerado no Rio Grande do Norte, impulsionada pelo crescimento do mercado. O Estado conta com 303 eletropostos instalados, de acordo com dados até outubro da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). A expansão da rede de eletropostos instalada avança no mesmo ritmo do mercado: ainda conforme números da associação, somente em 2025, as vendas de veículos leves eletrificados e veículos leves híbridos cresceram 37,4% no RN, saltando de 1.918 unidades comercializadas de janeiro a outubro de 2024 para 2.635 no mesmo período de 2025.
Com a combinação entre o avanço da rede de eletropostos e o crescimento das vendas, o Rio Grande do Norte alcançou a marca de 15,27 veículos por ponto de recarga — proporção mais favorável que a média nacional, que é de 19,91 veículos por eletroposto. Atualmente, o estado conta com 209 carregadores do tipo AC, conhecidos como carregadores lentos, e 94 rápidos (DC), capazes de levar uma bateria de 20% a 80% de carga em cerca de 30 minutos.
“São carregadores mais robustos, que permitem o carregamento mais rápido. E a gente tem visto também uma diferença no Rio Grande do Norte, com o aumento dos carregadores DC”, explica Thiago Sugahara, vice-presidente da ABVE.

Natal concentra 44% do total de pontos de recarga no RN. O levantamento considera apenas eletropostos semipúblicos — como por exemplo, os instalados em supermercados, shoppings, ruas e centros comerciais. Segundo o presidente, a expansão dos carregadores rápidos tem papel estratégico na rotina de quem utiliza carros elétricos.
“O crescimento dessa infraestrutura dos carregadores rápidos permite que, por exemplo, as pessoas que trabalham com carros elétricos para transportar pessoas possam carregar em 20 ou 30 minutos e continuar trabalhando com o veículo”, explica o vice-presidente da ABVE.
Conforme Thiago Sugahara, a maioria dos proprietários de veículos eletrificados opta por realizar a recarga em casa ou no trabalho. “As pessoas que têm um carro elétrico, em geral, também têm um carregador na sua residência. A gente percebe que 80% dos clientes de carros elétricos fazem o carregamento ou na residência ou no local de trabalho, que é onde o carro passa a maior parte do tempo parado”, explica.
Pontos de recarga dentro da própria residência, ainda segundo Sugahara, podem reduzir em até um terço dos gastos com automóveis. “Os carros elétricos reduzem em pelo menos um terço o gasto que você tem com um veículo convencional, quando você tem uma infraestrutura de recarga na sua residência”, conta o especialista.
“Olhando o Rio Grande do Norte, em especial, a gente vê que os veículos elétricos conquistaram uma participação maior do que os veículos híbridos”, destaca o vice-presidente da ABVE, apontando que essa tendência pode estar relacionada ao aumento no uso de painéis solares nas residências.
Mesmo assim, há quem prefira os híbridos pela flexibilidade no abastecimento. O empresário Francisco Assis, proprietário de um Niro HEV, explica que a escolha está ligada à praticidade. “Minha casa tem placa solar e posso carregar lá tranquilamente, mas não é todo lugar que recarrega. Os híbridos funcionam bem justamente pela versatilidade que esses modelos oferecem”, comenta.
Leonardo Dall’Olio, diretor comercial do Grupo Carmais, que conta com uma loja BYD em Natal, ressalta que a disponibilidade desses pontos não é determinante para o consumidor. “O carro elétrico foi feito para ser carregado quando não está em uso — à noite, no trabalho, durante o almoço”, explica.

Ricardo Marcelino é motorista por aplicativo e comprou recentemente um veículo da marca BYD Dolphin Mini. “Rodo de segunda a sexta e quando pauso para descansar ou almoçar, deixo carregando no shopping. É de graça, aí economizo”, afirma. Em alguns estabelecimentos a recarga é gratuita e o consumidor paga apenas o valor do estacionamento.
O motorista destaca a praticidade e economia no dia a dia: “O pessoal pergunta muito se vale a pena. Para mim, tem sido muito bom, principalmente pelo custo-benefício, porque a manutenção é quase zero. E pense em um carro belíssimo”, comenta Ricardo.
Ainda segundo Leonardo Dall’Olio, do Grupo Carmais, “as autonomias hoje passam dos 300 quilômetros. Então, a pessoa fica muito confortável em usar o carro sem precisar estar carregando toda hora”, explica.
De acordo com ele, outro ponto que pode ser destacado no RN é a combinação entre carro elétrico e energia solar. “Aqui no Rio Grande do Norte há muitos clientes com placas solares em casa. Ele passa a ter uma economia de 100% sobre uma coisa que ela tinha, um gasto corriqueiro, que era o combustível fóssil, a gasolina”, afirma.
Avanço na rede de recarga impulsiona alta no mercado
O Rio Grande do Norte ocupa a 17ª posição nacional em número de veículos leves eletrificados, com uma evolução de 37,4% em um comparativo entre outubro de 2024 e outubro de 2025, segundo dados da ABVE. Em Natal, o levantamento aponta um aumento de 23,9%.
O avanço da infraestrutura é um dos fatores que têm contribuído para o aumento da confiança dos consumidores. Segundo Bruno Ramos, diretor comercial do Grupo Dunas, a expansão dos eletropostos vem acompanhada do uso de aplicativos que facilitam o planejamento de viagens.
Ramos pondera que o carregamento urbano já é suficiente, mas a autonomia ainda é um desafio nas rodovias. “O problema maior desses carros elétricos é a viagem. Você pegar uma BR e arriscar, se não tiver um posto de combustível deste (com carregamento elétrico) você vai chegar no final do trajeto e a autonomia do carro não vai ter capacidade de chegar.
Apesar disso, ele destaca que a quantidade de postos nas BRs está aumentando, com mais carregadores sendo instalados: “Na verdade, os donos de postos de combustível estão vendo aí uma forma de ganhar dinheiro também. Então, cada vez se aperfeiçoam mais nessa questão dos elétricos”, afirma.
O RN já conta com 5.494 veículos eletrificados emplacados, segundo dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran/RN). Com preços mais acessíveis e baterias que duram cada vez mais, os carros elétricos deixaram de ser uma aposta distante e já conquistam a preferência de quem busca economia e tecnologia.
“Aqui na nossa loja de seminovos, muitos carros que nós compramos, usados, são de pessoas que estão adquirindo um novo elétrico ou híbrido. Então, é um mercado que não tem volta mais”, afirmou Ronaldo Azevedo, diretor comercial da Dudu Car, concessionária de seminovos localizada em Parnamirim.
O gerente de vendas Rodolfo Sales, do grupo Chevrolet Dão Silveira, em Natal, tem percebido que questões ambientais e de conforto também têm chamado atenção dos usuários. “O cliente vai poluir menos usando carro elétrico, não vai ter questão do IPVA, o carro é mais silencioso”, pontua.
Ainda segundo Rodolfo, o mercado tem potencial de crescimento principalmente pelo perfil dos novos consumidores. “É o perfil de um investidor, um cliente mais entendido, mais atualizado, que está sempre uma geração à frente”.
O Grupo Carmais prevê dobrar o volume de vendas até 2026, e já planeja a abertura de uma nova loja “de grande porte” em Natal. “O Rio Grande do Norte é um dos estados com mais potencial de crescimento no Brasil. Acreditamos muito nesse mercado e estamos investindo”, disse Leonardo Dall’Olio, diretor comercial do grupo.
CREA começa fiscalização em eletropostos
Apesar do aumento acelerado na rede de eletropostos e do próprio mercado veicular, a fiscalização dos equipamentos de recarga ainda é uma prática recente para o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio Grande do Norte (CREA-RN). O Confea, órgão nacional que regulamenta a área, definiu em outubro deste ano os princípios básicos para esse tipo de instalação. O Crea começou a força-tarefa entre os dias 3 e 7 de novembro deste ano.
“Entrou na nossa rotina de trabalho, e os fiscais vão continuar durante todo ano e os próximos anos, fiscalizando os eletropostos, assim como a gente já fiscaliza todos os serviços que são de engenharia”, informou Juliano Barbosa, gerente de fiscalização do Crea-RN.
Em situações de sobrecarga, o equipamento de recarga dispõe de um sistema de proteção que atua de forma inteligente, comunicando-se com a bateria. Caso ocorra alguma falha na instalação e o sistema não consiga realizar a leitura adequada para interromper o processo de carregamento, a bateria pode sofrer superaquecimento e, em situações extremas, provocar incêndio.
“Eletropostos têm uma carga muito alta, então, tem o risco, desde o choque elétrico no usuário, já que esses eletropostos geralmente são carcaças de alumínio, além de ferro, e podem não ser tão condutores, além da questão do incêndio”, alertou o gerente de fiscalização do Crea-RN.