AVANÇO DA SECA COLOCA 74 MUNICÍPIOS DO RIO GRANDE DO NORTE EM EMERGÊNCIA

O Rio Grande do Norte acende um novo sinal de alerta diante do avanço da seca. De acordo com o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), 74 municípios potiguares já se encontram em situação de emergência. O cenário se agravou em julho, quando a estiagem atingiu 96,4% do território estadual, segundo o Monitor de Secas da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh).

As reservas hídricas também seguem em queda. Dados mais recentes do Instituto de Gestão das Águas do RN (Igarn) mostram que os reservatórios acumulam apenas 44,79% da capacidade total, um recuo expressivo em relação aos 61,34% registrados em janeiro. O volume preocupa porque o segundo semestre, período de estiagem no semiárido, não garante recarga natural dos mananciais.

A maior barragem do estado, Armando Ribeiro Gonçalves, no Vale do Açu, está com 53,63% de sua capacidade. Já a barragem Oiticica, recém-impulsionada pela transposição do São Francisco, registra 14,46% — o reservatório foi inaugurado em março passado.

No Seridó, a situação é ainda mais crítica: cidades como Ouro Branco, São José do Seridó e Jardim do Seridó enfrentam redução drástica nos mananciais, e Ouro Branco já vive colapso parcial de abastecimento, levando a Companhia de Águas e Esgotos do RN (Caern) a suspender o faturamento.

No Alto Oeste, Luís Gomes parou de receber água após o açude Lulu Pinto secar. A solução emergencial deve chegar até o fim de setembro, com a entrada em operação do subsistema da Adutora Alto Oeste, que também reforçará o envio de água para Riacho de Santana e Água Nova.
Atualmente, 12 reservatórios monitorados pelo Igarn estão abaixo de 10% da capacidade, entre eles Itans (Caicó), Sabugi (São João do Sabugi) e Passagem das Traíras (São José do Seridó), que praticamente secaram.

O agravamento do quadro levou a governadora Fátima Bezerra a instituir o Comitê de Enfrentamento à Seca, responsável por articular medidas de curto, médio e longo prazo.

Segundo o secretário estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Paulo Varella, a situação exige cooperação: “Esse é um grande desafio de cooperação, nunca de conflito. É preciso somar forças dos usuários, dos municípios, dos beneficiários e do Governo do Estado”, afirmou.

Entre as medidas em estudo está a decretação de situação de emergência em nível estadual, que atualmente está sob análise da Procuradoria-Geral do Estado (PGE). O decreto permitiria acelerar processos burocráticos e facilitar a adoção de ações emergenciais.

O Estado aposta em iniciativas estruturantes, como a recuperação de barragens, perfuração de poços e implantação de adutoras. O projeto Seridó, conduzido pela Codevasf, foi acelerado: a primeira fase, prevista para junho de 2026, deve ser concluída já no início daquele ano. Além disso, está em curso o programa de recuperação de 28 barragens e um plano para perfuração de 500 poços até abril de 2026 — mais de 60 já concluídos.

No campo tecnológico, está em andamento a instalação de dessalinizadores em parceria com o MIDR, com investimento de R$ 32 milhões. O Governo do Estado também aposta na consolidação de grandes obras como a Barragem de Oiticica e na chegada das águas da transposição do São Francisco, vistas como estratégicas para mitigar os efeitos da estiagem.

Enquanto governos buscam soluções, a orientação da Caern à população é clara: economizar água. Entre as recomendações estão a reparação imediata de vazamentos, o controle do tempo de banho e o uso consciente em atividades domésticas.

“Estamos em um período de alto consumo e baixa oferta. O uso consciente é fundamental para atravessar os próximos meses”, alerta a companhia.