O relatório final da Polícia Federal (PF), que fundamentou o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outras 36 pessoas, revela que o planejamento de um golpe de Estado teve início em março de 2021, quase dois anos antes da derrota de Bolsonaro nas eleições presidenciais. Os crimes apurados incluem tentativa de golpe de Estado, abolição do Estado Democrático de Direito e organização criminosa.
Uma apresentação de slides encontrada em um notebook do ex-ajudante de ordens Mauro Cid, criada em 22 de março de 2021, é considerada peça-chave na investigação. O documento descreve técnicas militares, planos para uma ruptura institucional e até uma estratégia de fuga de Bolsonaro para o exterior caso o golpe fracassasse.
A PF destacou que o ex-presidente enfrentou o Judiciário de forma mais contundente em 7 de setembro de 2021, durante manifestações contra o Supremo Tribunal Federal (STF). Apesar das ameaças de ruptura, o plano só avançou após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2022.
O relatório também identifica cenários que poderiam levar Bolsonaro a desrespeitar decisões judiciais e avançar para a ruptura democrática, incluindo intervenção do STF no Executivo, cassação da chapa presidencial ou veto ao voto impresso. O projeto do voto impresso foi derrotado na Câmara dos Deputados.
Os atos em Brasília e São Paulo em 2021, convocados com antecedência, aumentaram a tensão. Na Avenida Paulista, Bolsonaro declarou que não acataria decisões do ministro Alexandre de Moraes, a quem chamou de “canalha”. Moraes presidia o inquérito sobre atos antidemocráticos e havia adotado medidas contra aliados bolsonaristas.
O relatório da PF conclui que as ações planejadas tinham o objetivo de restringir a atuação do STF e comprometer o regime democrático no Brasil. O uso de técnicas militares para sustentar o esquema e garantir a fuga de Bolsonaro é destacado como elemento central na estratégia investigada.
Com informações do Jornal O Globo