ENDIVIDAMENTO COMPROMETE SAÚDE DO CORPO E DA MENTE

Uma pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), realizada em parceria com a Offerwise Pesquisas, revelou um cenário em que a saúde física e mental também são afetadas com o atraso no pagamento de contas. A pesquisa da CNDL e do SPC Brasil evidenciou que a inadimplência gera impactos na saúde, nas emoções e nos relacionamentos. De forma geral, o estudo revela que 82% dos entrevistados admitiram sofrer efeitos do endividamento além dos impactos financeiros. As mulheres foram as mais prejudicadas em quase todos os indicadores de emoções.

Dos entrevistados, 97% dos entrevistados admitiram sofrer efeitos negativos após inadimplência acima de 3 meses: 84% ficaram preocupados, 74% sentiram-se ansiosos, 65% estressados ou irritados, 64% angustiados e 64% envergonhados.
No estudo, 66% dos pesquisados afirmaram ter um nível de preocupação alto ou muito alto frente às dívidas em atraso há mais de 3 meses; 19%, um nível médio; e 12% estavam pouco ou muito pouco preocupados. Dois terços relataram alterações no sono, 60% menos vontade de sair e socializar, e 51% tiveram alterações no apetite.

Segundo a psicóloga Kimberlly Lira, um dos principais reflexos da preocupação com o atraso de contas é a ansiedade, mas ele também pode desencadear oscilações no humor e outros transtornos mentais. Para amenizar os impactos dessa situação na saúde mental, é importante “pensar no processo de se cuidar, buscar suporte especializado e compreender que é uma coisa de cada vez. Tentar se organizar o máximo que puder no sentido financeiro, entendendo que existem coisas que estão sob nosso controle, e existem coisas que não estão sob nosso controle”, sugere Kimberlly.

Além disso, a psicóloga pontua que as pessoas endividadas costumam buscar possibilidades de alívio, como os vícios em jogos e os comportamentos autodestrutivos, para evitar pensar em dívidas. “Justamente para pensar estratégias de ‘ah, vou fazer tal coisa para esquecer o que eu estou vivendo’ e para esquecer que está devendo”, afirma a psicóloga.

Luana Gonçalves teve complicações de saúde devido a dívidas. Foto:Magnus Nascimento



A vendedora Luana da Silva Gonçalves, 47 anos, é uma das brasileiras cujos reflexos da inadimplência se manifestaram em seu corpo e mente. Ela conta que teve complicações de saúde mental e impactos físicos devido às dívidas que possuía. “A gente fica preocupado, porque tem que pagar, não é? Aí criei também uma crise de ansiedade sobre dívida. Fiz até tratamento”, afirma.

O cartão de crédito foi um dos principais responsáveis pelo endividamento de Luana, seguido de clientes que deixaram de pagar a ela. Além disso, houve uma época em que o esposo dela ficou desempregado. Por causa das preocupações, ela teve diversas complicações de saúde. “É uma coisa que a gente não sabe que vem, e no meu caso veio tudo [de uma vez]. Eu fui para a psiquiatra e para a psicóloga. Tive ânsia de vômito, ânsia de não comer, coração acelerado, falta de ar, dor por todo canto”, relata.

Passados cinco anos desde a primeira crise de ansiedade motivada por dívidas, hoje ela se define como curada. Ela atribui essa cura à sua fé e à psicoterapia. “Não tenho mais dívida. Paguei tudo, e no Serasa meu nome é limpo”, comemora a vendedora.

Números
No Rio Grande do Norte, conforme dados da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), o número de inadimplentes aumentou 1,75% em maio de 2024 em comparação ao mesmo período do ano anterior, e o cenário é de alerta. A análise por faixa etária revela que a maioria dos devedores potiguares se encontra na faixa dos 30 a 39 anos, representando 25,38% do total. Em termos de gênero, o levantamento mostra que as mulheres constituem 52,43% dos inadimplentes, enquanto os homens correspondem a 47,57%.

O valor médio das dívidas por consumidor no Estado é de R$ 4.370,05, mas com uma significativa parcela (44,98%) das dívidas sendo de até R$ 1 mil. Já o tempo médio de atraso nas contas é de 27,5 meses, destacando que 42,31% dos devedores estão inadimplentes entre um a três anos.