
Junho chega com cheiro de milho verde, som de sanfona e céu colorido de bandeirinhas. Em todo o Nordeste, as festas de São João movimentam ruas, praças e corações. Mas por trás do forró animado, das comidas típicas e das quadrilhas, há um sentido mais profundo: a celebração de um dos santos mais importantes do calendário cristão – São João Batista.
Segundo o Padre Arthur Anderson, Vigário Paroquial da Paróquia de São João Batista em Natal, a origem da festa remonta à mistura de tradições pagãs e elementos cristãos trazidos pelos colonizadores portugueses. Ao longo do tempo, a devoção ao santo cresceu e se enraizou no imaginário popular, especialmente entre os povos do Nordeste, que adotaram a festa como parte da identidade regional.
“São João é um festejo religioso que tem sua raiz também na tradição popular do nosso povo nordestino. É um dos Santos mais importantes e conhecidos para os cristãos católicos, inúmeros altares no país e no mundo celebra o santo que foi o precursor de Nosso Senhor Jesus Cristo”, destaca.
Afinal quem é São João?
Figura central nas tradições cristãs, São João Batista é reconhecido como o último profeta do Antigo Testamento e o primeiro do Novo. De acordo com o padre Arthur Anderson, sua vida é marcada por um nascimento milagroso — filho de Zacarias e Isabel — e por uma missão de importância singular: preparar os caminhos para a chegada de Jesus Cristo.
João foi o responsável por batizar o próprio Cristo nas águas do rio Jordão, e sua atuação profética foi pautada pela coragem de denunciar injustiças e práticas corrompidas da época. “O batista, Grande anunciador do Reino, denunciador dos pecados e protetor da Verdade, foi preso por não concordar com as atitudes pecaminosas de Herodes”, explica o padre. Sua morte, por decapitação, foi ordenada como resultado do ódio de Herodíades, mulher com quem Herodes mantinha uma união ilegítima.
“O grande santo morreu na santidade e reconhecido pelo próprio Cristo: “Em verdade eu vos digo, dentre os que nasceram de mulher, não surgiu ninguém maior que João, o Batista” (Mateus 11,11)”, diz o Padre Arthur.

Fogueira, bandeiras e outros símbolos
Entre os símbolos mais marcantes das festas juninas está a fogueira, que, além de aquecer as noites de celebração, possui um significado espiritual. “A fogueira, característica das festas de São João, tem seu fundamento na história do nascimento de São João Batista. A fogueira era um sinal de Santa Isabel, mãe de São João, para Maria, mãe de Jesus. Ela acendeu a fogueira e assim anunciou a Maria o nascimento do Batista”, explica Padre Arthur.

Outros elementos típicos da festa também ganham nova dimensão quando vistos à luz da fé. “O maior símbolo é a fogueira que anuncia o nascimento de São João, mas representa também a luz e alegria que vem de Cristo. As bandeiras são como orações que nos aproximam ainda mais do céu estrelado e do nosso Criador, as comidas típicas, são dádivas da bençãos do trabalho que foi nos dado por Deus”, afirma.
Devoção e a essência das festividades
Além dos rituais religiosos, o São João também representa uma oportunidade especial para reunir as famílias e fortalecer os laços comunitários. “A família é a maior e mais importante instituição divina que devemos favorecer nos tempos atuais, e os festejos de São João são um momento singular para as famílias estarem reunidas, celebrando, agradecendo e vivendo juntos a sua fé”, destaca o vigário.
Entretanto, o padre faz um alerta: “Infelizmente o desvio do real significado das festividades juninas é algo que pode acontecer cada vez mais. A secularização é um mal que devemos combater e por isso devemos viver verdadeiramente e intensamente os festejos que ligam a nossa fé, tradição, cultura e as origens de nosso povo”.
A Igreja Católica, por sua vez, tem buscado incentivar a preservação das tradições populares em sintonia com os valores cristãos. “Sempre de forma tão bela, a igreja ensina que as festividades que vivenciamos nesse mês de junho, tem sua finalidade em Cristo. Tudo fazemos para maior Glória de Cristo, como São João tanto nos ensinou: que Cristo cresça e eu diminua”, reforça.
Para aqueles que participam das festas juninas neste ano, Padre Arthur deixa uma mensagem de esperança e compromisso: “Estamos quase nos últimos dias do mês de junho, que possamos aproveitar e celebrar a nossa fé, nossa devoção, nossa cultura. É algo do povo nordestino, de nossas tradições que devemos acender e fazer brilhar sempre em nossa sociedade. Essa missão é dada também para os Cristãos que devem dar o testemunho de uma fé viva e sobretudo amadurecida nos comportamentos e ações”.
A espiritualidade, lembra o sacerdote, pode – e deve – caminhar junto com a celebração popular. “Que possamos assim, marcados de uma alegria que não é passageira ou momentânea, mas é uma alegria permanente de sermos de Deus. A celebração maior é viver com responsabilidade, respeito, união e paz ”, conclui.