FINANCIAMENTOS A MUNICÍPIOS DO RN BATE RECORD, COM 633,1 MILHÕES EM 2023

Em 2023, os municípios potiguares bateram recorde de volume de recursos acessados por meio de empréstimo junto ao Sistema Nacional de Fomento (SNF). Ao todo, foram destinados a 23 cidades do Rio Grande do Norte R$ 633,1 milhões, o maior montante da série histórica realizada desde 2012 (com R$ 8,5 milhões) pela Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE). Se comparado com 2022, quando os municípios potiguares acessaram R$ 109,9 milhões junto ao SNF, os recursos mais que quintuplicaram no ano passado. Mossoró (R$ 200 milhões) e Natal (R$ 110 milhões) estão no topo dos maiores volumes registrados.


Em seguida, de acordo com a ABDE, vêm Areia Branca (R$59,5 milhões), Guamaré (R$ 52 milhões) e Alto do Rodrigues (R$30 milhões). Juntos, os cinco municípios, obtiveram R$ 451,5 milhões em empréstimos, o equivalente a 71,3% do montante total no RN. Segundo a Associação Brasileira de Desenvolvimento, os recursos foram obtidos para investimentos em infraestrutura (pavimentação, manutenção e drenagem de ruas, urbanização de orlas, implementação de sistemas de esgoto e saneamento, conservação de patrimônio histórico, reforma de escolas e outras edificações públicas).


Ainda segundo a ABDE, em uma análise por agente financiador, os recursos estão divididos entre a Caixa Econômica Federal, que totaliza R$ 494,5 milhões, e o Banco do Brasil, responsável por liberar R$138,6 milhões em empréstimos. Luciano Santos, presidente da Federação dos Municípios do Rio Grande do Norte (Femurn), comenta que a ampliação de acesso aos recursos, significa avanços em investimentos.


“É importante reconhecer que este crescimento é um marco positivo para o desenvolvimento do nosso Estado. Os investimentos em infraestrutura são essenciais para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos e criar um ambiente mais propício ao desenvolvimento econômico. No entanto, é crucial que não nos acomodemos com esses avanços”, afirma.


Ele explica que a concentração de recursos nos cinco municípios potiguares pode ser atribuída a fatores específicos de cada região, como os investimentos em projetos de grande dimensão em Natal e Mossoró. “As duas são as maiores cidades do Estado e, naturalmente, têm uma demanda maior por projetos de grande escala, como urbanização de orlas e implementação de sistemas de esgoto e saneamento. Por isso, requerem recursos substanciais”, diz.


“Já municípios como Guamaré e Alto do Rodrigues têm uma economia fortemente ligada ao setor de petróleo e gás, o que pode justificar a necessidade de maiores investimentos para suportar a infraestrutura necessária a essas indústrias. Areia Branca, com o porto e atividades ligadas à pesca e sal, também demanda investimentos significativos para melhorar e expandir capacidades logísticas e industriais”, explica Santos.

Panorama de empréstimos

Municípios do RN com maior acesso a recursos do SNF em 2023

Mossoró: R$200 milhões
Natal: R$110 milhões
Areia Branca: R$ 59,5 milhões
Guamaré: R$ 52 milhões
Alto do Rodrigues: R$ 30 milhões

  • No RN, 23 municípios tiveram acesso a recursos do SNF, totalizando
    R$ 633.172.790
  • No Brasil, 932 municípios tiveram acesso a recursos do SNF, totalizando
    R$ 16,1 milhões

Fonte: ABDE

Femurn cobra equilíbrio no crédito

A TRIBUNA DO NORTE procurou os cinco municípios do RN com mais acesso aos recursos do SNF para obter um detalhamento dos investimentos que demandaram a busca por crédito. Apenas Alto do Rodrigues e Areia Branca retornaram aos contatos da reportagem. A Prefeitura do Alto do Rodrigues informou que houve, inicialmente, um contrato de R$ 30 milhões com a Caixa Econômica, mas a gestão está em tratativas para reajustar o montante.


“A expectativa é de uma redução de 50% no volume contratado. O Município entendeu que não há necessidade de continuar a operação com R$ 30 milhões, pois ao final as parcelas ficariam com um valor elevado, o que poderia prejudicar as receitas futuras. Os R$ 15 milhões estão sendo aplicados em obras de esgotamento sanitário e de pavimentação asfáltica”, esclareceu a Prefeitura.


Já em Areia Branca, R$ 20 milhões (um terço do recurso programado) foi recebido da Caixa Econômica até o momento. “Por se tratar de um recurso vinculado e de valor elevado, há uma série de exigências que devem ser observadas para o início do desembolso e execução de obras. O desembolso começou a ser feito em dezembro de 2023. Os recursos foram aplicados em pavimentação asfáltica de mais de 20 vias urbanas e rurais, totalizando mais de 10 mil metros de extensão aplicada, além de recomposição de estradas vicinais e instalação de uma clínica de reabilitação para pessoas com deficiência”, disse a Prefeitura.


Luciano Santos, da Femurn, analisa que há um desequilíbrio no acesso à linha de créditos no RN. Ele alega ser necessário apostar no equilíbrio entre os municípios, bem como de variadas frentes, a fim de garantir o desenvolvimento sustentável de todas as regiões do Estado. “É fundamental que continuemos a buscar investimentos em diversas frentes, desde a indústria até o turismo, para gerar emprego e renda e promover um desenvolvimento sustentável”, ressalta o presidente da Femurn.


A desigualdade da distribuição de recursos não é exclusividade dos municípios potiguares. Em todo o País, o levantamento da ABDE ressalta que a concentração se intensificou na região Sudeste, em 2023. Conforme os dados, R$ 6,8 bilhões foram destinadas à região, quase o dobro do valor alocado para o Nordeste, que recebeu R$ 3,8 bilhões. Para a diretora da ABDE e presidente da Agência de Fomento do RN, Márcia Maia, ainda assim, tem havido uma tentativa de redução dessas desigualdades.


“O debate sobre as desigualdades regionais e de como minimizá-las data, pelo menos, da década de 1950. O que temos visto é um retorno da atenção às cidades com Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) menores. As regiões que têm esse indicador considerado muito baixo, baixo e médio receberam, em 2023, o total de R$ 4,4 bilhões do valor, o que representa 27,3% do total do crédito para infraestrutura municipal do país, um crescimento de 91,9% em relação a 2022.Ou seja, as cidades brasileiras que mais precisam, passaram a receber mais recursos”, explica Márcia Maia.


Ela reconhece, no entanto, que combater essas desigualdades é um desafio. “Um dos motivos para as cidades receberem mais ou menos recursos é a disponibilidade de um corpo técnico maior de servidores para a elaboração de projetos, o que é mais comum nos municípios maiores e mais ricos. E isso impacta diretamente na capacidade de captação de financiamentos. Sem contar que o Brasil é um País com diferenças regionais históricas que se expressam nos mais diversos indicadores, tornando esse processo ainda mais difícil”, afirma.


Maia destaca que a ampliação dos recursos destinados pelo SNF significa maior acesso a linhas de crédito, o que implica em melhorias para o desenvolvimento dos municípios e cita que os efeitos se darão também nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. “Os empréstimos impactam diretamente nos ODS, formalizados na Agenda 2030, das Nações Unidas. É importante destacar que essa agenda é composta por 17 objetivos, sendo que o objetivo de número 11, que é Cidades e Comunidades Sustentáveis, engloba justamente itens como a infraestrutura em geral relacionada à energia elétrica, iluminação pública, placas fotovoltaicas, pavimentação e saneamento”, explica.

Recursos do SNF batem recorde no País

O volume de recursos do Sistema Nacional de Fomento (SNF) destinados a 932 municípios em todo o Brasil em 2023 foi de R$ 16,1 bilhões, aumento de 42,7% em relação ao ano anterior (em 2022, foram R$ 11,3 bilhões). O número representa um recorde desde 2012, quando foi iniciada a série história pela ABDE. O levantamento indica, ainda, que o SNF respondeu por 96,2% das operações de crédito concedidas aos municípios no ano passado.


Os bancos federais públicos aparecem como os principais provedores de crédito, tendo ofertado R$ 74 bilhões entre 2012 e 2023. A seguir vêm as agências de fomento, com R$ 10,6 bilhões e os bancos estaduais de desenvolvimento com R$ 4,8 bilhões financiados entre 2012 e 2023.


No ano passado, a quantidade de operações de crédito revelou um leve aumento em relação a 2022, somando um total de 1.235 contratos (em 2022, foram 1.114 operações). O ticket médio das operações do SNF para municípios atingiu o ponto mais alto da série em 2023, totalizando R$13 milhões, um aumento de 28,7% em relação ao ano anterior (R$ 10,1 milhões em 2022). Em uma análise por região, quem concentrou mais recursos do SNF foi o Sudeste em 2023, com um montante de R$6,8 bilhões, quase o dobro do valor alocado para o Nordeste, que recebeu R$3,8 bilhões.