
Cerca de 54% dos consumidores brasileiros não fazem controle dos gastos mensais com o cartão de crédito e 28% já ficaram com o nome negativado por não pagarem a fatura, segundo pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em parceria com o SPC Brasil. Além das consequências diretas nas finanças das famílias, o descontrole no uso do crédito também afeta a saúde do comércio, principalmente em setores populares, onde o consumo parcelado é uma prática recorrente.Play Video
De acordo com a coordenadora financeira da CNDL, Merula Borges, é fundamental que os consumidores passem a monitorar de perto os valores lançados na fatura, especialmente por causa dos altos juros aplicados ao crédito rotativo. “É importante controlar essa fatura não só por conta de não ficarem inadimplentes, mas também porque as taxas envolvidas nessa modalidade de crédito são muito altas, o que pode fazer com que uma dívida que está mais controlada fique fora de controle, gerando um efeito de bola de neve e assim o consumidor fique com uma dificuldade muito maior de pagamento”, explica.
Merula também destaca os tipos de produtos que mais pressionam a fatura. “É importante notar que as roupas, calçados e acessórios lideram os itens mais buscados pelos consumidores, mas tem um papel importante também de itens de supermercado e eletrônicos. Com relação aos itens de eletrônicos e roupas, calçados e acessórios, há itens que podem esperar um pouco mais, então se o consumidor tiver essa possibilidade, é importante que ele espere e evite usar o crédito para tomar esse tipo de dívida. Mas quando o item é supermercado realmente fica um pouco mais difícil, porque se tratam de contas básicas”, analisa.
No comércio de rua, especialmente em polos populares como o Alecrim, o comportamento do consumidor tem mudado. Segundo Matheus Feitosa, presidente da Associação dos Empresários do Bairro do Alecrim (AEBA), a preferência pelo pagamento imediato tem ganhado força, mas a inadimplência ainda afeta o volume de vendas. “O pix tem sido uma forma também de evitar o uso do cartão de crédito para não acumular novas dívidas quando o cliente tem o saldo. Quando não existe o saldo, ele tenta usar seus cartões ou de familiares e amigos para não ficar sem o seu produto ou serviço. Sempre que a inadimplência é alta no mercado como um todo, isso reflete perda de vendas no comércio e principalmente nos produtos de menor necessidade ou supérfluos”, afirma.
Entre os consumidores, há quem reconheça o risco do crédito e tome medidas para evitar dívidas. Adiel Lino, 61 anos, auxiliar de serviços gerais e morador do loteamento José Sarney conta que tem mantido as contas sob controle. “Hoje posso dizer que não tenho dívidas.
Consegui controlar o cartão de crédito. Tem gente que compra mais do que pode pagar. Eu tenho cartão, mas sou controlado. Por exemplo, tenho R$ 11 mil de limite, mas como que eu vou comprar esse valor se eu ganho um salário mínimo e não posso pagar? Minha fatura fica em torno de R$ 1 mil, porque meus filhos usam, às vezes compram alguma coisa, mas eles pagam direitinho”, diz o trabalhador.
Maioria não sabe taxa de juros
Segundo o levantamento da CNDL/SPC Brasil, 82% dos consumidores que utilizam o crédito rotativo não sabem a taxa de juros cobrada mensalmente. Apenas 18% afirmaram conhecer esse valor e entre eles a média estimada declarada foi de 12% ao mês. Ainda de acordo com o estudo, 74% dos entrevistados analisaram tarifas e juros na hora de adquirir o cartão, mas 19% sequer consideraram essas variáveis antes de começar a utilizá-lo.
Os dados também mostram que 74% dos consumidores usaram o cartão de crédito nos últimos 12 meses, sendo que para 68% deles o uso é mensal. Além disso, 50% utilizam o cartão para compras na internet, 41% quando o valor da compra é alto e 38% recorrem ao crédito por não terem dinheiro para pagar à vista. Entre os produtos mais comprados com o cartão, roupas, calçados e acessórios aparecem em primeiro lugar (51%), seguidos de supermercados (44%) e eletrônicos (41%).
A pesquisa aponta ainda que 82% dos entrevistados possuem cartão de crédito, com média de dois cartões por pessoa. A maioria dos cartões é emitida por bancos digitais (71%) e bancos tradicionais (57%). Os principais motivos para a contratação são a praticidade do atendimento online, aprovação mais rápida e ausência de anuidade. Mesmo assim, 13% dos entrevistados afirmaram estar com ao menos uma fatura em atraso e 28% admitiram ter ficado com o nome sujo por não pagarem a fatura, sendo que 13% ainda não conseguiram regularizar a situação.