
A Safra 2024/2025 começa com boas perspectivas para os produtores rurais do Rio Grande do Norte. Com previsão de chuvas dentro da média e um ano iniciando com reservatórios cheios no interior, a expectativa é de uma maior produtividade e melhoria no escoamento da produção. No campo, pequenos e médios agricultores apostam na ampliação do plantio e no fortalecimento do acesso ao mercado, enquanto entidades do setor apontam avanços na comercialização.
No Assentamento Quilombo dos Palmares, em Macaíba, cerca de 47 famílias vivem do cultivo de ciclos curtos, como feijão, macaxeira e batata-doce. Esse é o caso de Erivaldo Luiz, 55, que saiu de uma produção no quintal da residência para uma área superior a 2 hectares. “A melhoria veio numa sequência de coisas. Primeiro, a gente conseguiu energia no lote, depois veio o poço perfurado e agora estamos investindo na irrigação”, explica. Com a cultura irrigada em 1 hectare desde novembro de 2024, ele deve ampliar para o uso dos 2 hectares ainda até o final deste ano.
Erivaldo e outras famílias da região recebem assistência técnica e gerencial do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), que diretamente auxilia na formação profissional dos produtores. Etiene Guedes, técnica de campo do Senar que atende à região, explica que esse suporte vem sendo essencial. “Antes, eles não registravam os custos da produção e, por isso, não tinham clareza do lucro. Agora, conseguimos implantar esse controle, o que facilita muito o planejamento e a venda”, destaca.
Lúcia Romão, 69, também do Assentamento Quilombo dos Palmares, é outra produtora assistida que compartilha da esperança de um ano melhor. Ao lado do marido Luís Miguel, 77, eles são responsáveis por uma terra de aproximadamente 10 hectares. Na área, o cultivo é prioritariamente de milho, arroz e feijão, além de outras 10 culturas que são multiplicadas gradativamente no quintal da residência. “Se continuar chovendo como está, vai ser bom. Chove e faz sol, e a lavoura cresce rápido”, explica.
De acordo com José Vieira, presidente do Sistema FAERN/SENAR, ainda é cedo para dizer quais são os cultivos que deverão estar mais fortalecidos para 2025, devido às mudanças do mercado. “Acredito que seja um crescimento de forma conjunta. A cana-de-açúcar é uma área que, obviamente, cresce um pouco, e a fruticultura irrigada, pelo mercado na Europa. Se o grão está com um preço bom, o produtor tende a plantar mais”, explica.
Com o auxílio do Sistema FAERN/SENAR, parte dos produtores que antes não tinham acesso, agora estão se preparando para produzir e vender hortaliças ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que inclui a compra de alimentos da agricultura familiar para a merenda escolar. Com o ano letivo das escolas públicas prestes a iniciar, o ciclo do plantio já foi iniciado e aguarda o ponto para colheita.
No ano passado, Lúcia enfrentou dificuldades para vender a produção, em especial a macaxeira, devido às exigências das fábricas e dos atravessadores. “A gente espera que esse ano seja bem melhor e que os compradores não dificultem tanto para adquirir nossa produção”, completa . Junto com o marido, ela também vende para cooperativas.
Segundo Alexandre Lima, secretário de Estado do Desenvolvimento Rural e da Agricultura Familiar (Sedraf), desde 2019 o Rio Grande do Norte possui um conjunto de políticas públicas para fortalecer os agricultores. Entre elas está o Programa Estadual de Compras Governamentais da Agricultura Familiar e Economia Solidária (PECAFES), que executa compras diretas e indiretas prioritariamente a mulheres, jovens, comunidades tradicionais, indígenas e quilombolas.
“O Rio Grande do Norte foi para além da alimentação escolar, da inclusão de produtos da agricultura familiar na alimentação escolar, chegando a restaurantes populares, chegando a toda a rede do Sistema Único de Saúde (SUS), a rede hospitalar do Rio Grande do Norte, tornando o pioneiro no Brasil com essa iniciativa”, explica Alexandre. Além disso, as feiras de agricultura familiar, que hoje atendem a 60 municípios, devem ser estendidas para mais cidades.
Um novo projeto de grande aposta para 2024/2025 destacado pela Sedraf é o Algodão Agroecológico Potiguar, que busca retomar a produção do algodão em sistemas diversificados. A expectativa, segundo Alexandre, é superar os 1.300 hectares desse cultivo e tornar o Estado um dos maiores produtores do Brasil.
Atraso no Garantia-Safra preocupa
Apesar do cenário favorável, uma preocupação dos produtores diz respeito ao atraso no pagamento do Programa Garantia-Safra. Segundo a FETARN, o governo estadual ainda não realizou o repasse devido referente à Safra 2023/2024, o que pode comprometer o acesso de aproximadamente 25 mil agricultores ao benefício de R$1.200,00, pago em parcela única.
Criado pela Lei nº 10.420, de 2002, o Garantia-Safra é uma ação do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), voltada a agricultores que enfrentam perdas por estiagem ou excesso hídrico. Para que o benefício seja liberado, é necessária a adesão conjunta de agricultores, municípios e governos estaduais, com cada parte contribuindo para um fundo gerido pelo governo federal.