SOLIDÃO NO CÁRCERE: 26% DAS MULHERES PRESAS NO BRASIL NÃO RECEBEM VISITAS

 Foto: Estevão Mamédio/g1

Um levantamento feito pelo g1 a partir de dados do Sisdepen – painel da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen) com informações sobre o sistema penitenciário brasileiro – mostra que 26,8% das mulheres presas no Brasil não têm visitantes cadastrados, ou seja, não recebem visita nenhuma.

  • Total de detentas: 23.567
  • Detentas sem visitantes: 6.327
  • Percentual sem visitas: 26,8%

O mesmo levantamento feito em relação aos homens indica para eles um percentual menor, de 23,3% de presos sem receber visitas. Embora numericamente a diferença não soe tão significativa, especialistas ouvidas pelo g1 afirmam que esse abandono castiga bem mais as detentas.

A explicação (confira na íntegra mais abaixo) pode ser resumida em 4 pontos:

  • 1️⃣ Ao serem presas, elas rompem com a expectativa de “docilidade” atribuída ao gênero
  • 2️⃣ Isso faz com que elas sejam mais punidas socialmente com o isolamento, sem visitas
  • 3️⃣ Como resultado, os visitantes, embora cadastrados, muitas vezes não aparecem na prisão (veja adiante exemplo de presídio que reduziu dia de visita pela baixa procura)
  • 4️⃣ Sentimento de tristeza, abandono e rejeição (veja depoimentos de presas no vídeo mais abaixo e conheça suas histórias AQUI)

Esta reportagem é parte da série “Dia de visita: a solidão da mulher no cárcere”, publicada pelo g1 na semana em que se celebra o Dia da Mulher.

Cartaz com a frase 'você não está sozinha' estampa sala de aula na Penitenciária Feminina de Mogi Guaçu — Foto: Estevão Mamédio/g1

Cartaz com a frase ‘você não está sozinha’ estampa sala de aula na Penitenciária Feminina de Mogi Guaçu — Foto: Estevão Mamédio/g1

Sobre os números

O levantamento feito pela reportagem leva em consideração o total de presas em 23 estados e quantas tinham visitantes cadastrados no 1º semestre de 2024, última atualização do painel.

O estudo não considera Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Tocantins porque, segundo o Ministério da Justiça, estes estados não forneceram as informações corretamente à União.

Solidão no cárcere – presas com e sem visitantes

Mais de um quarto da população carcerária brasileira feminina não possui nenhum visitante cadastradoPresas com visitantes cadastrados: 17.240Presas sem visitantes cadastrados: 6.327

As histórias: ‘Queria pelo menos uma carta’

g1 recebeu permissão da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) de São Paulo para encontrar algumas dessas detentas que não recebem visitantes. Com a maior população carcerária do país, o estado concentra também o maior número de mulheres sem visitas (veja mapa mais abaixo).

A reportagem esteve na Penitenciária Feminina de Mogi Guaçu, no interior do estado, aonde conversou com três mulheres. Elas são mães e, desde que foram detidas, nunca tiveram nenhuma visita sequer. Duas delas não receberam nem cartas dos familiares nesse período.

  • De acordo com os dados do Sisdepen, 77% das mulheres presas no Brasil são mães.

Sem qualquer registro além dos que carregam na memória, elas tentam na imaginação desenhar o rosto dos próprios filhos ao passar dos anos. “Eu gostaria que eles, pelo menos, enviassem uma carta falando que está tudo bem. Mandando fotos. Enviando fotos dos meus filhos.”, desabafou uma delas.

A unidade visitada pela reportagem abriga cerca de 850 mulheres, segundo dados de março de 2025 da SAP. Embora o total de visitantes cadastrados chegasse a 1,4 mil até junho de 2024, a diretoria da unidade diz que, na prática, o número de parentes que vão até a unidade não chega a 200 no dia de visita.

Esse, aliás, é outro ponto de destaque: diferentemente dos presídios masculinos, que reservam todo o final de semana para receber os familiares, por conta da baixa demanda, a unidade optou por encerrar as visitações presenciais aos sábados – dia em que passaram a ser realizadas visitas virtuais.

G1