UNIVERSIDADES DO RN AMPLIAM ACESSO A ALUNOS COM DEFICIÊNCIA

Foto: José Aldenir/Agora RN

Graças à implementação de políticas de cotas estaduais e federais, o Rio Grande do Norte apresenta índices de inclusão de estudantes com deficiência no ensino superior que superam a média brasileira. Enquanto dados recentes do Censo da Educação Superior mostram que esses alunos representam 0,9% dos matriculados no país, instituições potiguares já ultrapassam essa marca. A Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern), por exemplo, registra um percentual de 2,34%.

Em uma década, no Brasil, o número de matrículas de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento ou altas habilidades/superdotação saltou de 33 mil em 2014 (0,4% do total) para aproximadamente 95 mil, segundo o Censo mais recente. As deficiências mais declaradas nacionalmente foram a física (29.126), baixa visão (21.748) e o transtorno do espectro autista (15.941). O levantamento do Inep revela, porém, que esses alunos ainda representam menos de 1% dos matriculados em cursos de graduação no Brasil.

Em 2016, pessoas com deficiência foram incluídas na Lei de Cotas para instituições de ensino federais. Já no Rio Grande do Norte, a cota para estudantes com deficiência existe desde 2013, por lei que reserva 5% das vagas para esse público.

AGORA RN contatou as instituições de ensino superior às quais as cotas se aplicam para saber o número atual de estudantes com deficiência e qual o avanço nesse índice entre o período antes das ações afirmativas e atualmente. Segundo especialistas ouvidos pela reportagem, o aumento no número de matrículas reflete a criação de políticas como a reserva de vagas, o atendimento especializado em processos seletivos e uma maior conscientização da sociedade sobre a importância da educação inclusiva.

Confira dados por universidade

A Universidade do Estado do Rio Grande do Norte teve um crescimento de 365% no número de estudantes com deficiência entre 2013 e 2025, passando de 55 para 256 alunos. Desses, 240 estão na graduação e 16 na pós-graduação. Já os alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) na instituição registraram um aumento de 2.800% entre 2021 e 2025, saltando de 2 para 58 estudantes. A instituição, que tem uma Diretoria de Ações Inclusivas (Dain/Uern) com equipe multiprofissional, já formou 188 alunos com deficiência.

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Na Uern, número de estudantes com deficiência saltou de 55 para 256 em 12 anos – Foto: Reprodução

“A Universidade tem apresentado um crescimento consistente no número de alunos com deficiência ao longo dos anos. Esse aumento reflete tanto as políticas de inclusão implementadas pela instituição quanto à maior conscientização da sociedade sobre a importância da educação inclusiva”, afirma nota da Uern.

Na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), a Secretaria de Inclusão e Acessibilidade (SIA/UFRN) atende a 949 estudantes com necessidades educacionais específicas, sendo 597 com deficiência (284) e autismo (313), com altas habilidades/superdotação (16), com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (225), com transtornos específicos de aprendizagem (22) e outras necessidades (89). Do total, 862 são alunos do ensino superior – 811 da graduação.

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Universidades do RN ampliam acesso a alunos com deficiência

Já na Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), são 155 alunos atendidos pela Coordenação de Ação Afirmativa, Diversidade e Inclusão Social (Caadis), de diversas áreas do conhecimento, sendo 34 deles diagnosticados com autismo. A instituição aprovou a Política de Inclusão e Acessibilidade para Pessoas com Deficiência e Necessidades Específicas em 30 de julho de 2025. Segundo a professora Lourdes Fernandes, coordenadora da Caadis, a Universidade registrava entre 10 a 13 solicitações de atendimentos da Caadis de 2012 a 2016, antes da Lei de Cotas.

Além disso, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) tem atualmente 381 alunos com deficiência no ensino superior, somando todos os níveis de ensino. Desses, 262 estão na graduação, 100 na pós-graduação (especialização) e 19 cursam mestrado ou doutorado.

Francilene Silva, tradutora e intérprete de Libras no IFRN, diz que, entre 2000 e 2016, 23 alunos com deficiência foram matriculados. Com a implementação da reserva de cotas, o IFRN matriculou 2.966 estudantes com algum tipo de deficiência entre 2017 e 2025. O Instituto atua com Núcleos de Apoio às Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas (NAPNEs) em cada campus e conta com profissionais de apoio especializado, como intérpretes de Libras e psicopedagogos.

“Mais do que cumprir uma exigência legal, o IFRN reafirma, por meio de suas políticas e práticas, o compromisso com uma educação pública, gratuita e verdadeiramente inclusiva, que acolhe, respeita e garante o direito de aprender a todos e todas”, diz Silva.

Diferença enriquece processo de ensino, diz professora

A professora Cida Dias, secretária de Inclusão e Acessibilidade da UFRN, diz que o número total de estudantes com deficiência e neurodivergência na Universidade pode chegar a 2 mil, contando com os que não pediram atendimento na SIA/UFRN, e defende que a inclusão vai além do processo de ensino-aprendizagem. Para ela, é importante dar condições inclusivas para a permanência dos estudantes com deficiência no ensino superior.

“A universidade é uma instituição educacional, e o estudante com deficiência é um aluno que tem suas obrigações como estudante, mas também tem o direito de ter algumas adaptações ou necessidades atendidas para que isso seja feito com qualidade”, Dias afirma. Sobre a inserção desses alunos no mercado de trabalho, ela diz que a SIA realiza esforços para os acompanhar, o que ainda é um desafio. “Temos egressos que são servidores da universidade, com deficiência visual, por exemplo, que já estão aí em escolas e na pós-graduação em vários cursos da universidade.”

Para atender ao público, a SIA/UFRN possui uma equipe multidisciplinar de aproximadamente 30 pessoas. Dias defende que a presença das diferenças em sala de aula é uma “vantagem pedagógica na formação dos estudantes de qualquer área de conhecimento”.

Um dos braços da SIA é o Laboratório de Acessibilidade, localizado na Biblioteca Central Zila Mamede (BCZM), que atua na adaptação de textos para alunos com deficiência visual, dislexia e deficiência física para formatos digital, ampliado, braille e áudio, com audiodescrição para imagens.