O Papa Francisco esclareceu, neste sábado, comentários feitos durante a semana que foram interpretados como uma declaração do pontífice de que a homosssexualidade seria um pecado. A resposta, por carta, veio depois de um pedido de esclarecimento feito por um sacerdote dos EUA.
Durante entrevista à agência Associated Press, publicada na quarta-feira, Francisco simulou uma conversa com uma pessoa que dizia considerar que a relação entre pessoas do mesmo sexo é um pecado. Mesmo se tratando de um diálogo hipotético, as declarações foram tomadas como uma opinião do pontífice, que em 2019 havia dito que “tendências homossexuais não são um pecado”.
Por conta da repercussão, o padre James Martin, que é editor do site Outreach, voltado a católicos LGBTQIAP+, fez o pedido de esclarecimento ao pontífice.
Na mensagem, Francisco afirma que, ao mencionar a palavra “pecado”, se referia a um ensinamento moral da Igreja Católica, que considera pecaminosa qualquer relação sexual fora do casamento, e não especificamente às relações entre pessoas do mesmo sexo.
“Como você pode ver, eu estava repetindo algo geral. Deveria ter dito ‘É um pecado, como em qualquer ato sexual fora do casamento’”, escreveu Francisco, na carta publicada pelo site Outreach, voltado a católicos LGBTQIAP+.
O Papa também sugeriu que ocorreu uma falha de compreensão depois da divulgação da conversa.
“Em uma entrevista televisionada, onde falamos com uma linguagem natural e em ritmo de conversa, é compreensível que não existissem definições tão precisas”, escreveu Francisco, se referindo ao fato de que a conversa hipotética foi tomada como sendo uma declaração de suas ideias. No passado, o Papa já havia acusado a imprensa de usar “fora de contexto” falas suas sobre o tema.
A relação entre duas pessoas do mesmo sexo é um dos temas que mais dividem as alas progressista e conservadora da Igreja Católica. Apesar da Igreja não considerar especificamente a homossexualidade pecado, ela estipula que o casamento é apenas entre um homem e uma mulher.
Na carta ao site Outreach, Francisco voltou a criticar países que ainda criminalizam casais do mesmo sexo, tema central da entrevista para a Associated Press na quarta-feira.
“Eu gostaria de esclarecer que (a homossexualidade) não é um crime, para reforçar que a criminalização não é boa ou justa”, escreveu Francisco. “E eu quero dizer a qualquer um que queira criminalizar a homossexualidade que eles estão errados.”
Na próxima semana, o Papa Francisco fará uma visita de seis dias à República Democrática do Congo e ao Sudão do Sul, país onde relações entre dois homens são consideradas um crime grave, com pena de até 14 anos de prisão, e onde pessoas transgênero também podem ser presas.
De acordo com a Human Rights Watch, hoje 69 países têm leis que criminalizam relações consensuais entre duas pessoas do mesmo sexo — em sete deles, as pessoas podem receber a pena de morte.O Globo