
Os casos de coqueluche tiveram um aumento expressivo no Brasil nos últimos anos, acendendo um alerta para a importância da vacinação. Dados do Ministério da Saúde apontam que o número de registros confirmados da doença saltou de 214 em 2023 para 6.759 em 2024, um crescimento de 3.058%. Em 2025, até o momento, já foram contabilizados 62 casos no país. No Rio Grande do Norte, a situação também preocupa: foram três ocorrências em 2023, número que subiu para dez no ano passado, um aumento de 233%. Neste ano, ainda não há registros informados pela pasta no estado.
A coqueluche é uma infecção respiratória causada pela bactéria Bordetella Pertussis. Sua principal característica são crises de tosse seca intensa e persistente, que podem levar a complicações mais graves, especialmente em bebês e pessoas imunossuprimidas. A transmissão ocorre principalmente por meio de gotículas eliminadas ao tossir, espirrar ou falar. Em casos menos comuns, pode haver contaminação por contato com objetos recentemente expostos às secreções de um infectado.Play Video
De acordo com Gisele Borba, médica infectologista do Hospital Universitário Onofre Lopes (Huol/UFRN/Ebserh), a tosse persistente é o principais indicativos da doença. “Os sintomas característicos são febre baixa, moleza no corpo, coriza e tosse seca. A tosse da coqueluche é persistente, não passa fácil e pode vir acompanhada de um guincho ao final, por dificuldade respiratória causada pelo laringoespasmo”, explica. Segundo a especialista, a manifestação da tosse pode variar em adultos que já receberam a vacina, podendo ser confundida com sintomas gripais comuns.
A vacinação é considerada a principal forma de prevenção contra a coqueluche. O Programa Nacional de Imunizações (PNI), do Ministério da Saúde, disponibiliza duas vacinas que protegem contra a doença: a DTP (tríplice bacteriana infantil) e a dTpa (tríplice bacteriana acelular tipo adulto). A vacina DTP é indicada para crianças menores de sete anos, com doses de reforço aos 15 meses e aos quatro anos de idade. Já a dTpa é oferecida a gestantes a cada nova gravidez e para profissionais da saúde que atuam em unidades neonatais, maternidades e berçários. Ambas fazem parte do calendário nacional de vacinação e são ofertadas gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
A reportagem da TRIBUNA DO NORTE esteve presente na Unidade Básica de Saúde (UBS) São João, no bairro Tirol, em Natal. Até a última quarta-feira (28), os profissionais da unidade confirmaram que o abastecimento das doses segue normalmente e que a procura também se mantém constante por crianças, gestantes e profissionais de saúde.
Cassiana dos Santos, 45, é uma das pessoas que faz questão de manter o calendário vacinal em dia. Mãe de Elza Cecília, 4, ela levou a criança para tomar a vacina DTP à UBS São João, que envolve a proteção contra a coqueluche. “A vacinação evita bastante. A gente sabe que é uma dor para eles, mas é necessário para um cuidado bem maior”, avalia Cassiana.
Na avaliação de Gisele Borba, esse cuidado é positivo e deve ser prolongado com o passar dos anos. “A imunidade conferida pela vacina não dura a vida toda. Quando temos uma cobertura vacinal alta na infância, conseguimos evitar que a bactéria circule amplamente, protegendo toda a população. Mas quando a cobertura cai, começam a surgir novos casos, inclusive em adultos que foram vacinados há muito tempo”, explica.
De acordo com o Ministério da Saúde, bebês menores de um ano estão entre os mais vulneráveis à forma grave da doença, o que pode levar à hospitalização e, em alguns casos, à morte. “Se a tosse persistir além de três a cinco dias, é fundamental procurar assistência médica”, alerta a infectologista do Huol/UFRN/Ebserh.
Apesar dos números no Rio Grande do Norte ainda não serem significativos, Gisele destaca que é preciso ter controle, em especial para quem viaja para cidades de maior incidência dos casos e que podem trazer a doença para o estado. A cobertura vacinal também foi citado pela especialista como parte essencial.
A reportagem da TRIBUNA DO NORTE procurou a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sesap) desde a última quarta-feira (28) para dados de vacinação e medidas de contenção da doença, mas não obteve retorno até o fechamento da matéria nesta segunda-feira (3).