Jair Bolsonaro agiu diretamente, na sua última semana como presidente da República, para reaver as joias avaliadas em R$ 16,5 milhões enviadas para ele e sua esposa, Michelle, pelo regime da Arábia Saudita. A coluna teve acesso exclusivo aos bastidores de toda movimentação do ex-presidente e de seu então ajudante de ordens, o coronel Mauro Cid, para liberar as peças de diamantes que foram apreendidas pela Receita Federal no Aeroporto de Guarulhos.
Cid e Bolsonaro devem ser ouvidos no inquérito instaurado pela Polícia Federal para apurar o episódio. Procurado, o advogado do coronel, Rodrigo Roca, disse que não comentaria o caso. O ex-presidente Bolsonaro não respondeu aos questionamentos da coluna enviado para sua assessoria.
Em conversas com pessoas próximas, Cid relatou que o próprio Bolsonaro determinou que ele entrasse em contato com o então chefe da Receita Federal, Júlio César Vieira Gomes, para liberar as joias, nos últimos dias do governo.
A ordem foi dada ao subordinado após o então presidente ter recebido um alerta de que as joias enviadas pelo regime Saudita estavam apreendidas em Guarulhos e que iriam para leilão. Cid telefonou para Julio Cesar, que o orientou a enviar um documento oficial para reaver as peças e detalhou como o procedimento deveria ser adotado. Na conversa com o assistente, Jair Bolsonaro disse que “não ia deixar nada para Lula”, referindo-se ao presidente que assumiria dali alguns dias.
O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro relatou a aliados que as peças tinham como destino o acervo privado do ex-presidente. Isso significa que, se a peças de diamantes fossem liberada pela Receita, Bolsonaro a levaria com a mudança que carregou dos Palácios do Planalto e da Alvorada. Foi esse o destino do segundo pacote com o qual Bolsonaro foi presenteado pelo regime Saudita. A interlocutores, Cid afirmou que o pacote está no “acervo pessoal” de Bolsonaro, que contém cerca de 9 mil itens guardados em um galpão alugado pelo capitão.
A avaliação de Cid e do governo Bolsonaro é a de que as joias de R$ 16,5 milhões seriam “itens de natureza personalíssima ou de consumo direto”, os objetos que, segundo o decreto do Tribunal de Contas da União (TCU) de 2016, não precisam ser incorporados ao patrimônio da União. A avaliação do subprocurador-geral do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), Lucas Furtado, no entanto é distinta.
— Se essas joias fossem para uso pessoal ou personalíssimo, deveria ter sido pago imposto. Isso vale para qualquer mortal brasileiro — disse à coluna da jornalista Bela Megale, O Globo.
Segundo Cid disse a aliados, a Ajudância de Ordens, área a qual chefiava, era a responsável por receber os presentes destinados ao presidente da República e entregar o material ao gabinete documentação histórica que seguia para o acervo de Bolsonaro. Cid destaca que os itens que costumavam ser retirados do acervo e levados para Jair Bolsonaro eram as camisas de futebol que ele ganhava.
Quando relata o caso a pessoas próximas, o ex-auxiliar de Jair Bolsonaro diz a aliados que “não houve irregularidade em sua atuação” afirma que “ninguém tentar dar golpe fazendo pedidos oficiais e formalizados”.
Bela Megale – O Globo