As projeções populacionais divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam um panorama preocupante para o Rio Grande do Norte nas próximas décadas, destacam especialistas. Com um declínio populacional a partir de 2040, que vai culminar na diminuição de 227 mil habitantes em 2070, na comparação com o cenário atual, as perspectivas são de impactos na saúde e previdência e uma menor pressão na área da educação.
Os estudos do IBGE mostram que o Estado, que deve atingir seu pico populacional em 2039 com 3,51 milhões de habitantes, enfrentará um declínio no número de habitantes a partir de 2040, culminando em 3,07 milhões em 2070. Hoje a população potiguar é de 3,3 milhões. A taxa de natalidade é outro fator que faz parte do contexto de declínio populacional. No RN, o índice caiu pela metade, passando de 2,18 nascimentos por mil habitantes em 2000 para 1,15 em 2023. Em 2070, espera-se que essa taxa caia ainda mais para 0,71.
O aumento da expectativa de vida e a queda acentuada na fecundidade têm sido os principais motores do envelhecimento populacional no RN. Em 2023, a proporção de idosos (pessoas com 65 anos ou mais) no estado era de 15%, mas as projeções indicam que esse número pode mais que dobrar até 2070, chegando a 39,9%. Isso significa que quase 40% da população será composta por idosos, o que trará desafios sem precedentes. Para o doutor em demografia Ricardo Ojima, haverá dificuldades para o Estado por conta das mudanças.
“Isso vai fazer com que tenhamos diminuição de crianças. Portanto, temos uma redução da população adulta, que é o que temos hoje, com a maior parte em idade produtiva. Essas projeções mostram que lá na frente teremos uma grande concentração de pessoas idosas, que irá superar a população de crianças”, frisa.
Esse envelhecimento populacional também implica na necessidade de planejar a estrutura previdenciária do Estado. O sistema atual, que depende fortemente das contribuições da força de trabalho ativa, pode se tornar insustentável com uma base de contribuintes cada vez menor e um número crescente de beneficiários.
“Isso denota que nós não nos preparamos para o longo prazo. É preciso que o atual governo e os futuros comecem a fazer planejamento de ações para essa futura população idosa. Isso mostra também que as oportunidades de crescimento estão sendo perdidas ao longo de várias décadas”, sugere Robespierre do Ó.
Com uma população envelhecida, o sistema de saúde do Rio Grande do Norte deverá enfrentar uma pressão crescente. Doenças crônicas, como diabetes, hipertensão e demência, que são mais prevalentes entre os idosos, deverão demandar uma maior parte dos recursos públicos. A necessidade de cuidados contínuos e especializados aumentará, elevando os custos com saúde, avalia o demógrafo Ricardo Ojima.
“Essa dinâmica vai provocar uma mudança nas prioridades das políticas públicas e privadas. Os investimentos em saúde terão que ser reformulados porque a pressão por esse serviço será muito maior. Esse e previdência são os que mais terão impacto. Por outro lado, vejo que existirá uma pressão menor na área da educação porque teremos menos crianças”, pontua o especialista.
Economia
Por outro lado, cerca de 70% da população brasileira está apta ao mercado de trabalho, momento que deveria ser melhor aproveitado para impulsionar o desenvolvimento econômico.
Atualmente, tanto o RN quanto o Brasil estão em um período conhecido como bônus demográfico, onde a proporção de população economicamente ativa, entre 15 e 64 anos, é maior do que a de crianças e idosos. Dados do último Censo mostram que a cada dez brasileiros, sete estão ativos. O doutor em demografia Ricardo Ojima detalha que o País e o Estado vivem um momento único, mas enxerga desafios que dificultam investimentos em inovação, tecnologia, educação e melhoria da capacidade da força de trabalho.
“Esse é o momento ideal. Nunca antes e nunca mais, a população brasileira vai passar por esse momento de concentração grande de pessoas em idade ativa. Hoje a gente tem cerca de 70% da população na idade de trabalhar e isso é uma oportunidade. Por outro lado, precisa ter investimento em oferecer mão de obra para esse grupo populacional que é muito grande e acaba sendo muito desafiador no contexto atual”, explica Ojima, que também é chefe do Departamento de Demografia e Ciências Atuariais da Universidade Federal (DDCA/UFRN).
O economista Robespierre do Ó lembra que outros países, como Japão e Coreia do Sul, já enfrentam problemas com o envelhecimento da população, mas que, tiveram um crescimento econômico expressivo durante os períodos de bônus demográfico. As duas potências costumam figurar nas primeiras posições do ranking do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que calcula o índice de desenvolvimento dos países.
“Esses países lá atrás investiram muito maciçamente em educação. E quando a gente olha para o nosso Estado, ocupando as últimas posições do Ideb, a gente fica preocupado. Não temos uma educação de base que funciona e fica difícil vislumbrar como iremos mudar essa realidade. Como vamos atrair empresas, indústrias, se nós temos uma mão de obra ruim, mal qualificada? Estamos mudando o perfil da nossa população em um momento de grande dificuldade e isso acende um alerta muito grande”, pontua o economista.