Cientistas usando navios quebra-gelo e robôs submarinos descobriram que a geleira Thwaites, na Antártica, está derretendo a uma taxa acelerada e pode estar em um caminho irreversível de colapso. O aumento na velocidade indica uma catástrofe que aconteceria com o aumento do nível do mar no mundo.
Desde 2018, uma equipe de cientistas que forma a “Colaboração Internacional da Geleira Thwaites” tem estudado de perto essa geleira — frequentemente apelidada de “Geleira do Juízo Final” — para entender melhor como e quando ela pode entrar em colapso.
Suas descobertas, apresentadas em uma coleção de estudos, oferecem a imagem mais clara até agora dessa geleira complexa e em constante mudança. O cenário é “sombrio”, segundo informaram cientistas em um relatório publicado na última quinta-feira (19), revelando as principais conclusões de seus seis anos de pesquisa.
Eles descobriram que a perda rápida de gelo está prestes a acelerar neste século. O recuo da Thwaites acelerou consideravelmente nos últimos 30 anos, conforme explicou Rob Larter, geofísico marinho do British Antarctic Survey e parte da equipe ITGC. “Nossas descobertas indicam que ela está prestes a recuar ainda mais e mais rápido”, afirmou.
Os cientistas projetam que a geleira Thwaites e a camada de gelo da Antártica podem colapsar dentro de 200 anos, o que teria consequências devastadoras.
A Thwaites contém água suficiente para aumentar o nível do mar em mais de 60 centímetros. Mas, como ela também atua como uma rolha, segurando a vasta camada de gelo da Antártica, seu colapso poderia, em última instância, levar a um aumento de cerca de 3 metros no nível do mar, devastando comunidades costeiras de Miami e Londres até Bangladesh e as ilhas do Pacífico.
Os cientistas há muito sabem que a Thwaites, do tamanho da Flórida, era vulnerável em parte por causa de sua geografia. A terra em que ela se encontra inclina-se para baixo, o que significa que, à medida que ela derrete, mais gelo é exposto à água do oceano, que é relativamente quente.
No entanto, anteriormente, pouco se sabia sobre os mecanismos por trás de seu recuo. “A Antártica continua sendo a maior incógnita para entender e prever o aumento futuro do nível do mar”, relataram os cientistas da ITGC no comunicado.
Nos últimos seis anos, a variedade de experimentos dos cientistas buscou trazer mais clareza.
Eles enviaram um robô em forma de torpedo chamado Icefin até a linha de base da Thwaites, o ponto em que o gelo se eleva do fundo do mar e começa a flutuar, um ponto crítico de vulnerabilidade.
A primeira filmagem do Icefin nadando até a linha de base foi emocionante, disse Kiya Riverman, glaciologista da Universidade de Portland. “Para os glaciologistas, acho que isso teve o impacto emocional que talvez o pouso na lua teve para o resto da sociedade”, ela disse em uma conferência de imprensa.
“Foi um grande acontecimento. Estávamos vendo esse lugar pela primeira vez.”
Através das imagens enviadas pelo Icefin, eles descobriram que a geleira está derretendo de maneiras inesperadas, com a água quente do oceano conseguindo se infiltrar por fendas profundas e formações em “escada” no gelo.
Outro estudo usou dados de satélite e GPS para analisar os impactos das marés e descobriu que a água do mar conseguiu penetrar mais de 9 quilômetros abaixo da Thwaites, empurrando água quente sob o gelo e causando derretimento rápido.
Mais cientistas investigaram a história da Thwaites. Uma equipe, incluindo Julia Wellner, professora da Universidade de Houston, analisou núcleos de sedimentos marinhos para reconstruir o passado da geleira e descobriu que ela começou a recuar rapidamente na década de 1940, provavelmente desencadeada por um evento de El Niño muito forte — uma flutuação climática natural que tende a ter um impacto de aquecimento.
Esses resultados “nos ensinam amplamente sobre o comportamento do gelo, acrescentando mais detalhes do que apenas observar o gelo moderno”, disse Wellner à CNN.
Em meio ao cenário sombrio, também houve algumas boas notícias sobre um processo que os cientistas temem que possa causar derretimento rápido.
Há uma preocupação de que, se as plataformas de gelo da Thwaites colapsarem, isso deixaria expostos penhascos de gelo altos no oceano. Esses penhascos altos poderiam facilmente se tornar instáveis e desabar no oceano, expondo penhascos ainda mais altos atrás deles, com o processo se repetindo indefinidamente.
No entanto, a modelagem por computador mostrou que, embora esse fenômeno seja real, as chances de isso acontecer são menores do que se temia anteriormente.
Isso não significa que a Thwaites está segura.
Os cientistas preveem que toda a Thwaites e a camada de gelo da Antártica atrás dela podem desaparecer no século 23. Mesmo que os humanos parem de queimar combustíveis fósseis rapidamente — o que não está acontecendo — pode ser tarde demais para salvá-la.
Embora esta fase do projeto ITGC esteja chegando ao fim, os cientistas dizem que ainda é necessário muito mais pesquisa para entender essa geleira complexa e determinar se seu recuo é agora irreversível.
“Embora tenha havido progresso, ainda temos grande incerteza sobre o futuro”, disse Eric Rignot, glaciologista da Universidade da Califórnia, Irvine, e parte da ITGC. “Continuo muito preocupado de que esse setor da Antártica já esteja em estado de colapso.”