MULHERES AMPLIAM PRESENÇA NO MERCADO DE SEGUROS DO RN E FAZEM A DIFERENÇA

O alto número de mulheres em atuação no setor de seguros tem sido destaque no Brasil nos últimos anos. Em 2012, por exemplo, elas já representavam 57% da proporção de trabalhadores nas seguradoras do País, de acordo com dados da Escola Nacional de Seguros (ENS). Dez anos depois, elas continuam respondendo pela maior fatia (54,4%) quando o assunto é a atuação neste mercado, conforme aponta o 4º Estudo Mulheres no Mercado de Seguros no Brasil, da ENS, realizado em 2022. No Rio Grande do Norte, o cenário é semelhante: segundo estimativas do Sindicato dos Corretores de Seguros do Estado (Sincor RN), cerca de 50% dos 950 profissionais ativos no mercado são mulheres.


Marcus Arruda, vice presidente do Sincor-RN, avalia que o interesse delas pela área pôde ser melhor observado após a pandemia de covid-19. “É um mercado com uma boa média salarial e, acredito que as mulheres têm prestado atenção nisso”, comenta. Ele destacou o perfil das potiguares que chegam ao setor. “Geralmente, são mulheres que tiveram atuação em bancos, por exemplo, com boa formação acadêmica”, afirma. Para Luana Myrrha, professora do Departamento de Demografia e Ciências Atuariais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), algumas características facilitam a inserção feminina neste setor.


“Com base na literatura da importância da mulher em cargos que necessitam de integração e de atendimento, as mulheres têm, de fato, habilidades em atuar de forma mais respeitosa e com uma maior escuta às pessoas”, destaca. “Elas têm mais jogo de cintura e sabem lidar com possíveis desentendimentos”, completa a especialista, que é coordenadora do Laboratório de Estudos de Gênero e População da UFRN. Segundo ela, os dados significam um avanço em relação à igualdade de gênero no mercado segurador.


Por outro lado, o setor ainda vive desigualdades semelhantes às existentes no mundo do trabalho como um todo. “As questões salariais e a ocupação em cargos de gestão ou liderança são um exemplo disso”, afirma.
Myrrha explica que o cenário é fruto da chamada divisão sexual do trabalho, estabelecida no século 18 e que permanece até os dias atuais. “Neste conceito, cabia às mulheres a reprodução e o cuidado com a casa e a família. Com o tempo, elas passaram a se inserir no trabalho produtivo, ou seja, em funções que geram remuneração, mas em ocupações que reproduziam os cuidados. Por isso, é mais frequente vê-las atuando como professoras, enfermeiras ou trabalhadoras domésticas”, detalha.

Discrepâncias
Luana Myrrha chama a atenção para alguns aspectos importantes no que diz respeito à participação feminina no mercado em questão e que ainda são fruto de discrepâncias. A ocupação em cargos de gestão é um deles. “Quando se analisa esses cargos, percebe-se que a presença das mulheres é bem menos constante. E, neste ponto, a questão salarial faz ainda mais diferença”, destaca.


De acordo com o estudo da ENS, um desdobramento dos índices sobre a proporção de mulheres no setor de seguros aponta o tamanho da desigualdade de gênero no setor. Os dados indicam que 2,7% dos trabalhadores da área ocupam cargos executivos, dos quais 1,8% são homens e 0,8%, mulheres. Além disso, 9,5% dos profissionais deste mercado estão em função de gerência, dos quais 5,3% são homens e 4,2% são mulheres.
Em cargos de coordenação, eles são 4% e elas, 3,9% (total de 7,9% dos trabalhadores que atuam com seguros). “Isso mostra o quanto homens e mulheres, dentro do mercado segurador, também vivenciam desigualdades latentes que precisam ser superadas”, avalia a professora. Quando o assunto é distribuição salarial, as discrepâncias também são visíveis. Em 2021, segundo o estudo, homens ganhavam, em média, R$ 8,3 mil por mês, enquanto mulheres recebiam cerca de 70% desse valor (média de R$ 5,8 mil por mês). “Quanto maior o cargo, maior é a diferença salarial entre ambos”, observa Myrrha.


Mesmo com o avanço da presença feminina no setor, as atuais desigualdades no segmento vão continuar por muito tempo, na avaliação da professora. Mas a adoção de políticas públicas pode fazer a diferença para a atuação das mulheres neste e em outros mercados. “O fim dessas desigualdades depende de uma mudança cultural, o que demora gerações para acontecer”, assinala.


“Enquanto isso não se concretiza, são necessárias políticas públicas, como a existência de creches em tempo integral que permitam às mães deixarem os filhos no horário de trabalho delas. Também é preciso ter uma carga horária de trabalho reduzida para garantir melhor conciliação entre o cuidado com a casa e a vida profissional”, descreve a especialista.

Movimento amplifica papel da mulher no setor

A força da mulher nesse setor tem nome: Seguros.On. Há exatamente um ano, seis mulheres, donas de corretoras de seguro, sentiram a necessidade de ampliar conhecimentos e difundir informações sobre o setor na sociedade. Ana Alice Cardoso, Marilia Moraes, Nádyra Mendes, Socorro Credidio, Marileyde Guimarães e Polyana Medeiros se uniram e criaram o movimento, que amplificou o papel da mulher nesse mercado, ajudando-as a se sobressairem, o que “não era totalmente fácil” em um mercado fortemente masculino.


“As mulheres vêm desempenhando um papel significativo no mercado de seguros. Antigamente, era um segmento muito masculino e hoje já superamos. Somos mais de 50% dos profisisonais no mercado. E nas nossas visitas, nos treinamentos, nas seguradoras, a gente viu a necessidade de agregar, de construir relacionamentos, de ter uma mentalidade inovadora, de diversificar pensamentos”, afirma Ana Alice Cardoso, coordenadora do movimento Seguros.com.


A união das seis corretoras em torno do Seguros.On foi além de apenas capacitá-las, impactou os demais profissionais do setor. Ela também acredita que a presença da mulher no mercado terminou por criar um diferencial para o setor.


“Se você chega para contratar um produto, gosta de tudo explicadinho, para entender o que está comprando. E a mulher tem isso de explicar, de detalhar. A gente trouxe isso para o mercado, essa atenção com o cliente, esse cuidado. Foi um diferencial que fez com que a gente crescesse no mercado, mas outros profissionais foram junto”, analisa Ana Alice.


Ela ingressou no setor após a morte do pai. “Eu trabalhava em banco. Era a filha mais velha, somos três. E meu pai, que tinha mais de 30 anos no mercado, vivia dizendo que não ia ter uma filha para sucedê-lo, porque a gente não queria. Mas, de tanto ele falar, eu decidi fazer o curso. Tirei a Susep em 2011, ele faleceu em 2013. Mas eu só vim abrir a corretora em 2016. Relutei muito. Hoje, penso que devia ter vindo antes. Me sinto realizada, sou apaixonada. Entrar no mercado de Seguros transformou a minha vida, empoderou mais, principalmente, com essa troca de experiência, o network com outras corretoras, com corretores também”, diz Ana Alice.

Depoimentos – Histórias de empoderamento

Maria Socorro Credídio, 47 anos, natural de Natal
“Eu estou no mercado de seguros, empreendendo há mais ou menos um ano. E agora eu sou sócia do meu marido, que é corretor há quase 20 anos. Mas eu nunca quis chegar como a esposa de Eduardo, que é o meu marido. Eu quis, antes de ser corretora, antes de tirar a minha Susep, falar sobre seguro, sobre todos os seguros para a sociedade, e no início foi de uma forma muito tímida, comecei no Instagram, de forma orgânica, e falando, principalmente, sobre seguro de vida, que é a minha paixão. Foi no que me especializei, que é seguro de benefícios, que é vida, previdência e saúde. E eu fui me validando, eu fui me mostrando, antes de ser, de fato, corretora. Vejo que nesse segmento a mulher precisa ter resiliência, porque a gente leva muito não. É um ambiente securitário ainda muito masculino. Mas, na minha experiência, embora de pouco tempo, eu me sinto segura, sim. Não tenho medo de rejeição. Na verdade, a gente encontra muito desafio, mas não me sinto menor por ser mulher, não sou menos competente do que o meu marido, e não vou me calar se eu tiver minhas ideias. Mas é um desafio se sentir ouvida.”

Nádyra Mendes, 40 anos, natural de Santo Antônio do Salto da Onça
“Minha história tem um exemplo de empoderamento, de superação, mas parece com a de muita mulher que a gente conhece no mercado. Em 2018, eu tive a necessidade de fazer uma transição de carreira aos 35 anos. Na época, eu era sócia de uma escola, eu sou pedagoga, e eu não estava tendo lucro suficiente para sustentar minha família. Fiz uma análise de mercado na região, não tinha corretor lá em Santo Antônio, na região Agreste, e topei o desafio de me tornar corretora de seguros. Eu tive que enfrentar diversas barreiras. Eu fazia decoração de festa no final de semana para pagar o curso e eu ia no transporte escolar da prefeitura, de segunda a sexta. Eu pegava o ônibus às 4 da tarde lá em Santo Antônio e só voltava depois de meia-noite, quando o ônibus recolhia todos os alunos das universidades. Eu só tinha o desejo de recomeçar e um sonho, eu não tinha casa, estava recém-separada, com dois filhos e morando na casa dos meus pais, dependente deles. E eu precisava me capacitar em algo que fosse rápido, e que tivesse retorno em curto espaço de tempo. Me capacitei e usei minhas habilidades para entrar no mercado de seguros. Meu CNPJ saiu no dia do primeiro lockdown. Mas eu consegui, mesmo no meio do caos da pandemia, me reerguer financeiramente. Foi de fato o alavancar, o recomeço da minha vida econômica, financeira. Hoje, quatro anos depois, tenho a honra de falar que a minha corretora está em 12 cidades do Rio Grande do Norte. Sou consciente de que sou protagonista da minha história.”