Mais de 60% dos motoristas e entregadores que prestam serviço às principais plataformas e aplicativos no Brasil se autodeclaram negros (pretos ou pardos), e mais da metade não tem outro trabalho além dos que prestam a empresas como iFood e Uber.
Os dados fazem parte de um estudo feito pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) a pedido da Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec), instituição que representa algumas das principais plataformas de entrega e transporte no país.
Esses números foram levantados a partir de dados de 99, iFood, Uber e Zé Delivery, empresas que fazem parte da Amobitec, e também por meio de entrevistas com mais de 3 mil motoristas e entregadores de todo o Brasil.
Ao todo, essas plataformas levantaram 1,6 milhão de trabalhadores que fizeram ao menos uma viagem de agosto a novembro de 2022. São cerca de 1,2 milhão de motoristas e 385 mil entregadores.
De acordo com as informações, 48% dos entregadores disseram ter outro emprego além dos serviços prestados via aplicativo e 52% afirmaram que se dedicam exclusivamente ao trabalho pelos apps.
Do lado dos motoristas, 37% disseram ter outros empregos e 63% alegaram que só trabalham com as viagens viabilizadas pelas plataformas.
A maior parte dos motoristas e empregadores alegou aos pesquisadores que pretendem continuar prestando serviço às plataformas (60% dos motoristas e 80% dos entregadores).
A pesquisa revela ainda que 42% dos entregadores têm uma renda familiar mensal de três salários mínimos ou menos (ou seja, cerca de R$ 3,9 mil).
No caso dos motoristas, a renda média é maior: 74% declararam ter uma renda familiar mensal de mais de três salários mínimos, sendo que 34% ganham mais de seis salários mínimos.
A jornada média de trabalho de motoristas, de acordo com as informações coletadas pelo Cebrap, está entre 22 e 31 horas semanais, enquanto para entregadores oscila entre 13 e 17 horas semanais.
A renda líquida estimada para um motorista que trabalhe 40 horas por semana é de algo em torno de R$ 2.900 a R$ 4.700, enquanto a dos entregadores é de R$ 1.900 a R$ 3.000.
Regulamentação das atividades
Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (12), em meio às discussões que o governo tem feito junto aos trabalhadores de aplicativo e às empresas para regulamentar a atividade no país.
O formato do grupo de trabalho para elaborar essa regulamentação ainda não foi divulgado. Representantes dos trabalhadores e das empresas aguardam essa definição para poderem iniciar, oficialmente, as negociações sobre o assunto.
Nesta quarta (12), em audiência pública na Câmara dos Deputados, o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, disse que o governo deve entregar ao Congresso no fim do primeiro semestre, ou possivelmente no segundo, a proposta de regulamentação dos trabalhadores de aplicativos.
O ministro pontuou que será “difícil” cumprir a meta de apresentar a proposta até o meio deste ano, mas que o grupo de trabalho que vai cuidar do assunto tentará fechar um texto para que os deputados e senadores discutam no segundo semestre deste ano.
“Acho que vai ser difícil cumprir a meta do primeiro semestre, mas se o grupo tiver uma eficiência grande, poderemos consolidar esse trabalho no primeiro semestre, do primeiro para o segundo semestre, para oferecer ao Parlamento a possibilidade de trabalhar a partir daí”, observou Marinho.
O ministro do Trabalho destacou que a regulação feita pelo governo vai “observar a qualidade do trabalho, a remuneração, as condições de trabalho e a proteção do trabalho”.
“Hoje é uma atividade que não tem regulamentação, portanto um item importante a ser considerado é o enquadramento econômico desta atividade. É preciso ter clareza disso, de que os aplicativos que trabalham com transporte terão que ter uma única atividade econômica, hoje são diversas”, declarou.