“Garanta já o seu”, “agarre essa oportunidade” ou “primeiro bairro planejado da Grande Natal” são algumas das frases mais vistas em praticamente qualquer área das BR-101 que cruza a antes pequena cidade de Extremoz, a 23km de Natal. As frases se tornaram comuns nos últimos anos na cidade, que viveu uma espécie de “boom” imobiliário nos últimos 10 anos. O sonho da casa própria foi um dos que fez com que Extremoz saísse de 24.550 habitantes em 2010 para 61.381 habitantes em 2022, segundo dados do Censo do IBGE, tornando-se o 7º município mais populoso do Estado. Segundo a Confederação Nacional dos Municípios (CNM), o aumento de Extremoz foi o terceiro maior crescimento populacional em todo o Brasil.O crescimento foi considerado surpreendente para moradores, gestão pública, construtores civis, corretores de imóveis e moradores de diversas cidades, que estimulados por vários fatores, resolveram construir suas casas na “Terra do Grude”. São vários loteamentos ainda disponíveis e bairros planejados com centenas de casas que atraem os novos moradores.
“Moro aqui por comodidade, o crédito foi aprovado e estou feliz. Aqui foi até mais caro, mas foi onde consegui comprar. Moro com meus dois filhos. Aqui tem segurança patrimonial, ficamos à vontade, diferentemente de outros bairros. Quem vem aqui se agrada, as ruas e casas são boas”, explica o vigilante Haroldo Bernardo da Silva, 39 anos, que mora com os dois filhos no bairro Sport Clube, inaugurado em 2021. Ele já mora em Extremoz há dois anos, após conseguir aprovação de crédito junto à Caixa.
O construtor e incorporador civil Julio Andrés Iglesias, que atua com construção e vendas de casas desde 2009 em Extremoz, explica que o crescimento também está atrelado a programas de subsídio federais de habitação, como Minha Casa Minha Vida (MCMV) e Casa Verde Amarela.
No tocante a preços, o construtor estima que os valores dos lotes de Extremoz em relação à Natal, Parnamirim e Ceará-Mirim podiam chegar a 50% mais baratos no começo do boom imobiliário, o que atraiu os investidores e compradores. Há o fato ainda de que com o mercado aquecido, os imóveis também valorizam e sobem de preço.
“Em meados de 2012, Extremoz começou a ser uma alternativa para os construtores porque Parnamirim e SGA os terrenos começaram a ficar caros. Os construtores migraram, porque viram uma oportunidade, por Extremoz estar próxima de Natal e da zona Norte”, cita.
Esse é o mesmo fator apontado pelo diretor secretário do Creci-RN, Moisés Marinho. Atualmente, segundo ele, os custos em relação a outras cidades varia entre 30 e 40% na diferença de preço. “O pessoal foi morar lá em função de preços. Uma casa aqui em Natal, com três quartos, suíte e sala, cozinha e banheiro, um imóvel custa entre R$ 200 a R$ 220 mil. Em Extremoz, se consegue por R$ 140 mil. Há mais facilidade de se conseguir financiamento, então isso impacta no custo. Você compra um terreno mais em conta e constroi mais barato”, avalia, explicando ainda que os valores são variáveis.
Entre algumas das causas que explicam o crescimento é o fato de que o município de Extremoz está situado na intersecção de três cidades da região Metropolitana (Natal, São Gonçalo e Ceará-Mirim), ao passo que está a 20 minutos do Aeroporto Internacional Aluízio Alves. Aliado a isso, a cidade possui três lagoas e é cercada de cinco praias, que atraem turistas durante todo o ano.
“O que gerou tudo isso foram os preços dos imóveis e a proximidade, com a possibilidade de se morar na Grande Natal, com preço acessível, com bairros organizados e infraestrutura. O pessoal acabou vindo para cá”, explica a prefeita de Extremoz, Jussara Sales de Souza (PROS).
Com a migração populacional para Extremoz, são vários os empresários que também têm voltado suas energias e investimentos para a cidade nos mais diversos segmentos, como supermercados, padarias, postos de combustível, entre outros. “Antes em Extremoz só tínhamos um posto. Agora são nove”, explica o motorista João Maria de Souza, 43 anos.
Num dos bairros planejados de Extremoz, a enfermeira Jaqueline Ferreira, 50 anos, montou uma casa de rações e cuidados veterinários desde dezembro de 2019 para atender às demandas dos moradores. “Decidimos comprar uma casa justamente para trabalhar nela. O preço das casas e a facilidade atraiu. Em Natal seria mais caro. Quem não quer ter uma casa própria? O que ainda precisa ter aqui, apesar de ser um bairro novo, precisamos de uma escola e um posto de saúde, porque o que nos dá assistência é o de Vila de Fátima, que é bem longe”, explica.
Recentemente, um atacarejo foi inaugurado numa das novas ruas de Extremoz, além de terminal rodoviário e outros pequenos serviços. A procura da população agora é com relação à saúde e educação para não precisar se deslocar para grandes distâncias. Para quem mora num dos bairros Sport Club, por exemplo, a unidade de saúde mais próxima fica a pelo menos 30 minutos de distância.
Outras dificuldades relatadas por moradores são com relação a outros serviços básicos, como agências bancárias e transporte público: atualmente são cinco linhas da empresa Guanabara que fazem o translado pela cidade e por Natal. No tocante a bancos, são três: Caixa Econômica, Banco do Brasil e Bradesco, sendo apenas a Caixa uma agência propriamente dita.
“O valor das casas e o conjunto em si foram o que nos motivaram a vir para cá. Temos segurança. O preço aqui é bem mais em conta do que em Natal e a casa é nova. O que falta aqui é transporte, que é precário, é só o que as pessoas reclamam. Falta também um caixa eletrônico, que precisa ir no centro. Com relação a saúde, só temos um hospital e os postinhos de bairro. Se precisar de algo, corre pra Natal”, cita o casal Valquécia Lima, encarregada, 33 e Janeide Batista, 34, cabeleireira, que saíram de Natal para morar em Extremoz há um ano.
A reclamação pela demora nos ônibus e até a distância em algumas ruas nos bairros planejados motivou Luiz Pereira, 43 anos, morador da comunidade Murici, a abrir uma barraca de mototaxi ao lado do terminal de ônibus. Os preços variam entre R$ 5 e R$ 25 para trânsito na cidade, mas pode chegar a R$ 50 em viagens mais distantes e até para Natal.
“Eu observei uma demanda aqui, às vezes o ônibus atrasa, é demorado, pega um ônibus errado e desce aqui, e acaba tendo uma opção para se deslocar ao centro, para sua residência. Então a gente pega aqui no terminal e vai deixar em casa”, explica. Com ele, são mais três mototaxistas.
Explicação
O aumento populacional e de construção civil em Extremoz pode ser explicado por três fatores, segundo especialistas: a dificuldade de se construir/adquirir casas em Natal; facilidade cartorária e processual junto à Prefeitura; e menores preços em relação a outras cidades da Grande Natal.
Segundo dados do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci-RN), a venda de imóveis na cidade nos últimos cinco anos aumentou em 40%. Outro dado aponta ainda que 15% dos imóveis oferecidos em portais são vendidos mensalmente. Locais como Extremoz Centro, Sport Club, Moinho dos Ventos, Boa da Ilha e parte limite de São Gonçalo do Amarante são os lugares mais receptivos.