Cidadãos palestinos voltaram a protestar nesta sexta-feira, 27, durante o enterro do último dos 10 palestinos mortos em uma incursão israelense na Cisjordânia na quinta-feira, 26, e horas depois de caças mandados por Tel Aviv realizarem uma série de ataques aéreos em instalações pertencentes a grupos militantes na Faixa de Gaza – incluindo uma instalação de fabricação subterrânea do grupo Hamas, em resposta aos disparos de foguetes a partir do território palestino, informaram as Forças de Defesa de Israel.
A chance de uma grande conflagração parecia diminuir após o ataque israelense mais mortal em duas décadas. Moradores de Jerusalém e da Cisjordânia ocupada permaneceram nervosos na sexta-feira, mas as orações do meio-dia no complexo da Mesquita de Al-Aqsa – muitas vezes um catalisador de confrontos entre palestinos e policiais israelenses – transcorreram em relativa calma.
No funeral de um jovem de 22 anos, o último dos mortos no ataque da quinta-feira a ser enterrado, multidões de palestinos agitaram as bandeiras do Fatah, o partido que controla a Autoridade Palestina, e do Hamas, que governa Gaza. Em al-Ram, palestinos mascarados atiraram pedras e soltaram fogos de artifício contra a polícia israelense, que respondeu com gás lacrimogêneo. Mas até a publicação desta matéria, tanto os foguetes palestinos quanto os ataques aéreos israelenses pareciam limitados para evitar uma escalada de violência.
Durante a noite, o Exército israelense disse que três foguetes disparados de Gaza foram interceptados por defesas aéreas, enquanto outro caiu em uma área despovoada no Sul de Israel.
Os lançamentos não foram reivindicados, mas tanto o Hamas, grupo que controla a área, como a Jihad Islâmica prometeram represálias após a incursão no campo de refugiados de Jenin, no Norte da Cisjordânia.
Testemunhas oculares palestinas disseram que mais de 14 mísseis foram disparados contra um posto militar que pertence a grupos militantes de Gaza. Fontes médicas palestinas disseram que nenhum ferimento foi relatado durante os ataques.
A Jihad Islâmica afirmou nesta sexta-feira em um comunicado que os projéteis disparados “levam uma mensagem: o inimigo [Israel] deve permanecer alerta, porque o sangue palestino derramado custa caro”.
A incursão de quinta-feira resultou no maior número de mortes em meses, suspendendo a trégua vigente desde ano passado, e elevou o número de palestinos mortos este ano para 29.
O Ministério da Saúde palestino havia inicialmente reportado nove mortes, incluindo uma idosa, mas, mais tarde, informou que outro palestino faleceu ao ser atingido por tiros de tropas israelenses em um incidente separado perto de Ramallah, na Cisjordânia. Além disso, 20 pessoas ficaram feridas, incluindo quatro em condições graves, durante a operação militar no campo de refugiados da cidade, informou a pasta.
De acordo com a ONU, não eram registradas tantas mortes em apenas uma operação israelense na Cisjordânia desde o início dos registros das operações em 2005. A Autoridade Palestina, por sua vez, classificou a incursão pela Cisjordânia como um massacre e anunciou que não irá mais cooperar com Israel em matéria de segurança.
O Departamento de Estado americano anunciou que o chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, viajará na próxima semana a Israel e Cisjordânia para “reduzir as tensões” na região.
Além disso, o governo dos Emirados Árabes Unidos, que normalizou as relações com Israel em 2020, condenou “o ataque das forças israelenses” e pediu uma reunião “urgente” do Conselho de Segurança da ONU.
Desde o início do ano, até 30 palestinos, civis ou membros de grupos armados, morreram em incidentes de violência envolvendo as forças de segurança e também cidadãos civis de Israel.
Um porta-voz militar israelense disse que o Exército realizou “uma operação antiterrorista” contra a organização armada Jihad Islâmica, envolvida em vários ataques contra Israel.
Antes de se retirar, as forças israelenses “jogaram deliberadamente granadas de gás lacrimogêneo” na ala pediátrica de um hospital de Jenin, “o que provocou a asfixia de algumas crianças”, denunciou a ministra da Saúde palestina, Mai Al Kaila
“Ninguém disparou gás lacrimogêneo deliberadamente contra um hospital […], mas a operação ocorreu não muito longe de um hospital e é possível que o gás lacrimogêneo tenha entrado por uma janela aberta”, disse um porta-voz do Exército israelense à agência France-Presse. (Com agências internacionais).
Estadão Conteúdo